Trilhos Serranos

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quinta, 01 agosto 2013 01:08

PÔR-DO-SOL

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Postado à minha janela, aquela que dá para o ocaso, assisto ao fim do dia, contemplo o pôr-do-sol que nasce e morre sempre por detrás de montes e encostas.

Por-do-sol! Palimpsesto da minha vida, nele vejo escritas sobrepostas e nas zonas mais velhas, mais amarelecidas, aparecem e desaparecem memórias, amizades, companhias de vida perdidas.

Por-do-sol! Ó «sole mio» como eu me extasio com essa melodia de cores com esse arrebol, com essa paleta ferramenta de pintor imaginário polegar metido no buraco redondo e no seu fado eterno, diário expor acima da linha do horizonte onde todos dias se esconde, onde todos os dias morre naquela maneira colorida de morrer.

Pô-sol-2Red

Por-do-sol! Oh! Quem me dera que aquela paleta de cores acima da linha do horizonte que separa Céu e Terra, neste momento sereno se tornasse o lençol multicolor e quente onde eu caísse, onde eu me enrolasse e dormisse o sono eterno.

Por-do-sol! Oh! Sole Mio, partitura de ópera, melodia de embalar paleta de cores mil pano multicolor do Oriente, sari da Índia, capulana de Moçambique, aqui, além, onde quer morra, onde quer fique, ó artista que eu venero, acolhe as minhas cinzas atiradas ao vento, faz delas pigmento e tinta para a tua obra, pois eu não quero atravessar o rio na barca do Gil Vicente.

Por-do-sol! Linha do horizonte, linha que separa a luz da noite, que separa vida da morte. Para cá dessa linha ainda estou eu. Estou eu e quantos mais? Para lá dessa linha, está ela, ela e quantos mais? Gerações de filhos, mães, avós e pais, mas neste pôr-do-sol só conta ela, só conta ela. Ela quem? Aquela que, fazendo dela, os olhos meus, comigo contemplou desta janela, estrelas, mundos e céus que eram só meus e dela. Ela, quem? Aquela que desta casa foi dona, aquela que dos meus filhos foi a mãe. 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.