Por-do-sol! Oh! Quem me dera que aquela paleta de cores acima da linha do horizonte que separa Céu e Terra, neste momento sereno se tornasse o lençol multicolor e quente onde eu caísse, onde eu me enrolasse e dormisse o sono eterno.
Por-do-sol! Oh! Sole Mio, partitura de ópera, melodia de embalar paleta de cores mil pano multicolor do Oriente, sari da Índia, capulana de Moçambique, aqui, além, onde quer morra, onde quer fique, ó artista que eu venero, acolhe as minhas cinzas atiradas ao vento, faz delas pigmento e tinta para a tua obra, pois eu não quero atravessar o rio na barca do Gil Vicente.
Por-do-sol! Linha do horizonte, linha que separa a luz da noite, que separa vida da morte. Para cá dessa linha ainda estou eu. Estou eu e quantos mais? Para lá dessa linha, está ela, ela e quantos mais? Gerações de filhos, mães, avós e pais, mas neste pôr-do-sol só conta ela, só conta ela. Ela quem? Aquela que, fazendo dela, os olhos meus, comigo contemplou desta janela, estrelas, mundos e céus que eram só meus e dela. Ela, quem? Aquela que desta casa foi dona, aquela que dos meus filhos foi a mãe.