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quinta, 06 outubro 2016 12:20

CASTRO DAIRE - GENTE DA TERRA, V

Escrito por 

«DOIDA NÃO E NÃO»

Quando me dispus a discorrer sobre o texto que me chegou recentemente às mãos entregue pelo Dr. Jorge Ferreira Pinto, disse, logo a começar, que não se tratava de "uma peça literária, do ponto de vista da forma e da métrica" mas, sim um texto onde o nosso concelho nos aparece em "verso humilde celebrado", no qual se regista para a posteridade "informação histórica, geográfica, costumes e até, aqui e além, traços de caracter de alguma gente", aspetos sobre os quais incidiu e se inclinou a lupa o observadora de CARLOS MENDONÇA.

 Mendonça- RedzE assim sendo, tendo o autor aludido a sítios sobre os quais, ignorando eu o seu trabalho, também incidiu, muito depois de si, o meu olhar, não numa abordagem poética, mas sim na laboriosa tessitura da história e/ou da história e lenda, como foi o caso da crónica anterior sobre ocaminho da Sobreira, sobre o sino saimão e as tentações do demónio, cabe hoje trazer até aos leitores que me seguem e vão mostrando paciência e gosto de conhecerem melhor este pedacinho de Portugal, o registo que CARLOS MENDONÇA nos deixou passando pela aldeia do ROSSÃO.

ROSSÃO! Há cinquenta ...histórias...

De amor, abalou toda a Nação!

Tendo como palco essa povoação,

Da qual guardo tudo na memória

 

1- Doida Não - CópiaDona Adelaide da Cunha, uma Senhora

Casada com um famoso jornalista,

Fugindo para o Rossão, sem deixar pista

Não fosse também celebérrima escritora

 

Apaixonara-se pelo chaufeur Manuel,

Como em verdadeiro "Amor de Perdição".

Esconderam-se lá os dois no Rossão,

Para gozarem linda "Lua de Mel".

 

Saindo da igreja: uma surpresa!!

Detetives havia à sua procura.

E, assim, numa rua triste e escura

Ela (FELIZ) infelizmente foi presa!

 

Jamais se conformou com tal prisão!

Embora recolhida a lugar especial,

Escreveu, de maneira sensacional,

Os livros: "DOIDA NÃO" e "DOIDA NÃO E NÃO".

 

LIVROTendo dito eu que o texto de CARLOS MENDONÇA estava recheadO de "informações geográficas e históricas" e tendo já demonstrado que encontrei pretexto e sumo bastante para sobre ele discorrer, eis aqui a prova dos nove da minha acertada INTERPRETAÇÃO. Se a senhora Dona Adelaide Cunha se refugiou efetivamente no ROSSÃO ou se se ficou por SANTA COMBA DÃO onde dizem que foi presa,  se o autor foi fisicamente até àquela nossa aldeia serrada recolher o romance que, pelos ingredientes escandalosos metidos no caldo dos costumes, não deixaria, à época de preencher o imaginário popular e de ser cantado de feira em feira pelos ceguinhos, ignorando nós como este cavaleiro solitário recolheu o conteúdo que colocou em quadras, se foi fisicamente à aldeia a pé (pedibus calcantibus) ou se fez do seu pensamento o cavalo ROCINANTE  e sobre a sua sela magricela se deslocou lá, jamais o saberemos. 

Mas, imitando-o eu, tanto nestas suas cavalgadas físicas pelo concelho, como montado no pensamento estribado nas novas tecnologias, montei o meu cavalo com ferro "PC",  cavalguei até ao castelo BIBLIOTECA NACIONAL e, uma vez ali, entrei no PORBASE onde imediatamente encontrei o livro com o título "DOIDA NÃO"  atribuído a Maria Adelaide Coelho da Cunha, incluído no recheio de estudos jurídicos e psicológicos disponíveis aos investigadores dispostos discorrerem sobre "um escândalo em Portugal no início do século XX" por nele encontrarem matéria de reflexão sobre a organização social do tempo e o papel do marido e da esposa no contexto doméstico da época, de acordo com as leis vigentes. Uma dessas investigadoras foi Manuela Gonzaga que, em 2009, deu à estampa o "Doida não e não", tal como vemos cavalgando o GOOGLE e deixando aqui o que retirámos do alforge:

"Filha e herdeira do fundador do 'Diário de Notícias'. Mulher do administrador do mesmo jornal, o escritor Alfredo da Cunha. Presa num manicómio por um «crime de amor». Os factos relevantes têm início em Novembro de 1918: era uma vez uma senhora muito rica que fugiu de casa, trocando o marido, escritor e poeta, por um amante. Tinha quarenta e oito anos, pertencia à melhor sociedade portuguesa. O homem por quem esta senhora se apaixonou tinha praticamente metade da sua idade e fora seu motorista particular. Era herdeira do 'Diário de Notícias' e a sua história chocou a sociedade da época".

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.