«DOIDA NÃO E NÃO»
Quando me dispus a discorrer sobre o texto que me chegou recentemente às mãos entregue pelo Dr. Jorge Ferreira Pinto, disse, logo a começar, que não se tratava de "uma peça literária, do ponto de vista da forma e da métrica" mas, sim um texto onde o nosso concelho nos aparece em "verso humilde celebrado", no qual se regista para a posteridade "informação histórica, geográfica, costumes e até, aqui e além, traços de caracter de alguma gente", aspetos sobre os quais incidiu e se inclinou a lupa o observadora de CARLOS MENDONÇA.
E assim sendo, tendo o autor aludido a sítios sobre os quais, ignorando eu o seu trabalho, também incidiu, muito depois de si, o meu olhar, não numa abordagem poética, mas sim na laboriosa tessitura da história e/ou da história e lenda, como foi o caso da crónica anterior sobre ocaminho da Sobreira, sobre o sino saimão e as tentações do demónio, cabe hoje trazer até aos leitores que me seguem e vão mostrando paciência e gosto de conhecerem melhor este pedacinho de Portugal, o registo que CARLOS MENDONÇA nos deixou passando pela aldeia do ROSSÃO.
ROSSÃO! Há cinquenta ...histórias...
De amor, abalou toda a Nação!
Tendo como palco essa povoação,
Da qual guardo tudo na memória
Dona Adelaide da Cunha, uma Senhora
Casada com um famoso jornalista,
Fugindo para o Rossão, sem deixar pista
Não fosse também celebérrima escritora
Apaixonara-se pelo chaufeur Manuel,
Como em verdadeiro "Amor de Perdição".
Esconderam-se lá os dois no Rossão,
Para gozarem linda "Lua de Mel".
Saindo da igreja: uma surpresa!!
Detetives havia à sua procura.
E, assim, numa rua triste e escura
Ela (FELIZ) infelizmente foi presa!
Jamais se conformou com tal prisão!
Embora recolhida a lugar especial,
Escreveu, de maneira sensacional,
Os livros: "DOIDA NÃO" e "DOIDA NÃO E NÃO".
Tendo dito eu que o texto de CARLOS MENDONÇA estava recheadO de "informações geográficas e históricas" e tendo já demonstrado que encontrei pretexto e sumo bastante para sobre ele discorrer, eis aqui a prova dos nove da minha acertada INTERPRETAÇÃO. Se a senhora Dona Adelaide Cunha se refugiou efetivamente no ROSSÃO ou se se ficou por SANTA COMBA DÃO onde dizem que foi presa, se o autor foi fisicamente até àquela nossa aldeia serrada recolher o romance que, pelos ingredientes escandalosos metidos no caldo dos costumes, não deixaria, à época de preencher o imaginário popular e de ser cantado de feira em feira pelos ceguinhos, ignorando nós como este cavaleiro solitário recolheu o conteúdo que colocou em quadras, se foi fisicamente à aldeia a pé (pedibus calcantibus) ou se fez do seu pensamento o cavalo ROCINANTE e sobre a sua sela magricela se deslocou lá, jamais o saberemos.
Mas, imitando-o eu, tanto nestas suas cavalgadas físicas pelo concelho, como montado no pensamento estribado nas novas tecnologias, montei o meu cavalo com ferro "PC", cavalguei até ao castelo BIBLIOTECA NACIONAL e, uma vez ali, entrei no PORBASE onde imediatamente encontrei o livro com o título "DOIDA NÃO" atribuído a Maria Adelaide Coelho da Cunha, incluído no recheio de estudos jurídicos e psicológicos disponíveis aos investigadores dispostos discorrerem sobre "um escândalo em Portugal no início do século XX" por nele encontrarem matéria de reflexão sobre a organização social do tempo e o papel do marido e da esposa no contexto doméstico da época, de acordo com as leis vigentes. Uma dessas investigadoras foi Manuela Gonzaga que, em 2009, deu à estampa o "Doida não e não", tal como vemos cavalgando o GOOGLE e deixando aqui o que retirámos do alforge:
"Filha e herdeira do fundador do 'Diário de Notícias'. Mulher do administrador do mesmo jornal, o escritor Alfredo da Cunha. Presa num manicómio por um «crime de amor». Os factos relevantes têm início em Novembro de 1918: era uma vez uma senhora muito rica que fugiu de casa, trocando o marido, escritor e poeta, por um amante. Tinha quarenta e oito anos, pertencia à melhor sociedade portuguesa. O homem por quem esta senhora se apaixonou tinha praticamente metade da sua idade e fora seu motorista particular. Era herdeira do 'Diário de Notícias' e a sua história chocou a sociedade da época".