Trilhos Serranos

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quinta, 14 abril 2016 15:10

ÁS DE TRUNFO E DESTRUNFO

Escrito por 

 

O "ÁS"

Numa sociedade de tabus, onde é pecado falar de sexo, mamas e cus, foi assim mesmo que, levantada a pino, torre sem sino, do chão erguida, no meio da penedia espalhada a esmo na serra da Nave, um dia, descobri  um penedo e ledo corri a observá-lo. 

 Semelhante ao apêndice natural de um homem, de um homem gigante, sabedor de que a chuva e o vento tudo consomem com o tempo, senão mesmo, reduzido num instante a nada pela tecnologia usada nas pedreiras hoje em dia, já não com guilho e com a marra, mas com a moderna serra elétrica,  filmei-o, fotografei-o e, com frenética ousadia, nele inspirado pela forma e força que imana, fiz dele a capa do livro que escrevi com o título "O Homem da Nave, Devoto de Diana". 


Exótico aquele penedo é um produto erótico da natureza. Não há ali, naquela escultura, tenho a certeza, mão humana, ainda que humana pareça a figura. 

Penedo perdido naquele fraguedo, a remeter para tempo geológico distante, posso dizê-lo sem medo e caracter axiológico: com aquela grandeza, com aquele tamanho, está para nascer o escultor que tenha escopro, cinzel e maceta para, com rigor, deixar obra semelhante. Não é escultura de  Cutileiro e outros que tais que, pelo mundo inteiro, por toda a parte,  vão deixando a sua arte gigante. E creio mesmo que, seja qual for de cada um a sina, assim, autenticidade masculina posta a nu, só a natureza, na sua simplicidade,  sabe pôr aos olhos de quem se disponha a olhar a ver, subindo à serra da Nave em busca de arte, magia e verdade, sem maldade.

E todos os que, ao contrário, sem escolhas ou apetências culturais diferentes, de ordinário passam a vida a ler o livro de quarenta folhas, sentados em redor de uma mesa enredados na arte da sueca ou da bisca lambida, arte cheia de sinais e truques, todos os jogadores a manusear reis, condes e duques, antevendo o triunfo se lhes calha naipe certo e ases de trunfo, eis para eles, sem mais lida, sem mais trabalho o "ÁS" que faltava no baralho: não é de espadas, não é de ouros, não é de copas, não é de paus. Ele é o símbolo da vida masculina. Duvidam? Reparem bem e, virando e revirando, logo vereis, sem dificuldade, a verdade que já sabeis: o princípio e o fim da jogatina.

imageAbílio/abril/2016







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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.