Semelhante ao apêndice natural de um homem, de um homem gigante, sabedor de que a chuva e o vento tudo consomem com o tempo, senão mesmo, reduzido num instante a nada pela tecnologia usada nas pedreiras hoje em dia, já não com guilho e com a marra, mas com a moderna serra elétrica, filmei-o, fotografei-o e, com frenética ousadia, nele inspirado pela forma e força que imana, fiz dele a capa do livro que escrevi com o título "O Homem da Nave, Devoto de Diana".
Exótico aquele penedo é um produto erótico da natureza. Não há ali, naquela escultura, tenho a certeza, mão humana, ainda que humana pareça a figura.
Penedo perdido naquele fraguedo, a remeter para tempo geológico distante, posso dizê-lo sem medo e caracter axiológico: com aquela grandeza, com aquele tamanho, está para nascer o escultor que tenha escopro, cinzel e maceta para, com rigor, deixar obra semelhante. Não é escultura de Cutileiro e outros que tais que, pelo mundo inteiro, por toda a parte, vão deixando a sua arte gigante. E creio mesmo que, seja qual for de cada um a sina, assim, autenticidade masculina posta a nu, só a natureza, na sua simplicidade, sabe pôr aos olhos de quem se disponha a olhar a ver, subindo à serra da Nave em busca de arte, magia e verdade, sem maldade.
E todos os que, ao contrário, sem escolhas ou apetências culturais diferentes, de ordinário passam a vida a ler o livro de quarenta folhas, sentados em redor de uma mesa enredados na arte da sueca ou da bisca lambida, arte cheia de sinais e truques, todos os jogadores a manusear reis, condes e duques, antevendo o triunfo se lhes calha naipe certo e ases de trunfo, eis para eles, sem mais lida, sem mais trabalho o "ÁS" que faltava no baralho: não é de espadas, não é de ouros, não é de copas, não é de paus. Ele é o símbolo da vida masculina. Duvidam? Reparem bem e, virando e revirando, logo vereis, sem dificuldade, a verdade que já sabeis: o princípio e o fim da jogatina.
Abílio/abril/2016