Para muleta das suas convicções recorria eloquentemente à imagem das duas pirâmides que coexistiram durante séculos, lado a lado ou sobrepostas, enquadrando hierarquicamente o CLERO, NOBREZA E POVO e moldando o pensar e o agir dos membros da sociedade portuguesa, do topo à base. Foram séculos na roda do oleiro a moldar a mentalidade, o pensamento, os valores, a incutir o olhar para cima, o prostrar de joelhos, a vassalagem, a subserviência, mãos postas, a obediência, a assimilação do vocabulário e do gesto condizentes com o modelo: Rei é Rei! Jesus é Rei, a sua mãe é Rainha, padroeira de Portugal, e as figuras que, por qualquer razão, se elevam acima do cidadão comum, REIS ou PRÍNCIPES são. Dando valor às palavras, nunca esqueci de todo a convicção desse meu amigo. E, assumindo-me eu republicano, nascido em 1939, aos 74 anos de idade, não me custa muito reconhecer que não era totalmente destituída de sentido a observação desse meu amigo. É que, tendo eu lidado com "chefes" e "chefinhos", conhecendo eu governantes, chefes de família, autarcas, directores de serviços e outros concidadãos ligados à política e à cultura, que, visivelmente, cultivavam esses valores, autênticos "reinóis de taifas" nos domínios ibéricos a que tiveram acesso, não tenho outro remédio senão reconhecê-lo, sob pena de omitir ou negar a minha experiência de vida, fora dos livros.
É vejam só, eu próprio, levado na onda, chamei REI ao EUSÉBIO e bem podia ter-lhe chamado PRESIDENTE. Mas se calhar, sei lá, é por estar descrente nesta REPÚBLICA que me parece já não ser a minha.
NOTA: publicado há dois anos no Facebook.