Trilhos Serranos

Está em... Início Crónicas O CAMPANIÇO
quinta, 26 novembro 2015 13:08

O CAMPANIÇO

Escrito por 

Quase tão certo como um relógio suíço de marca,  "O CAMPANIÇO" entra-me número, após número, na caixa do correio.  Fundado em 1989, depois de eu ter saído de Castro Verde, não me lembro por que linhas me tornei colaborador dele e deixar nas suas páginas algumas crónicas. Lembro aquelas onde reportei as telas gigantes expostas na Igreja dos Remédios, pintadas, no século XVIII, por Diogo Magina (pintor algarvio) com motivos alusivos à Batalha de Ourique.

Pedro das Cabeças - CópiaAcabo de receber o número 100 e no texto escrito por Carlos Júlio, na capa/suplemento, bem pode estar a resposta à minha pergunta. O convite que lhe foi feito então por Fernando Caeiro para pôr de pé um projecto destes, projectar numa edição deste género tudo o que dissesse respeito ao concelho, a sua cultura e às suas gentes não era coisa fácil, num tempo em que as facilidades de comunicar e escrever não eram as de hoje. Talvez por isso é que, passados tantos anos, quando este periódico me entra porta dentro eu sinta que a equipa por ele responsável não me tenha posto no rol das "coisas descartáveis". O meu endereço continua nos seus ficheiros e isso, mais do que um nome e uma morada, fazem sentir-me PESSOA e ficar grato à equipa que assim procede. A sua chegada a minha casa, aqui à beira do Montemuro, terras frias, é um sopro de humanidade, um sopro de ar quente que me chega de Castro Verde, concelho onde deixei alguns anos de vida, onde deixei familiares, amigos e outros nem tanto. A minha falecida esposa era natural de lá, nasceu no Monte das Fontaínhas.

Sei que uma publicação deste género, em Castro Verde, em Castro Daire ou em qualquer outro concelho, umaErmida de Rodes Monte das Cabeçadas publicação com a chancela da Câmara Municipal, por mais objectiva e informativa que seja, não acolhe as boas vontades de toda a gente. Há quem veja somente os INTERESSES POLÍTICOS do momento e feche os olhos a tudo o mais que está para além e para aquém dos tempos. 

Como não me incluo nesse número de pessoas e porque a visita cronológica de "O CAMPANIÇO" me faz sentir que ainda sou GENTE não podia deixar de escrever estas linhas com os votos de que ele prossiga a senda traçada por Fernando Caeiro, por Carlos Júlio e prosseguida pelo arquitecto Francisco Duarte com quem tive discordâncias de gestão autárquica (a requalificação do Largo da Feira, debatida na Assembleia Municipal e no "Diário do Alentejo", lembram-se?) mas não fez de nós inimigos. E nem outra coisa se esperaria de duas pessoas civilizadas. E venha o 101.

E não seria despiciendo ver nas suas páginas o que de comum há entre Castro Daire e Castro Verde, para além do topónimo "Castro". Deixei isso no meu livro "Afonso Henriques, História e Lenda". E, bem vistas as coisas, acredite-se ou não, os dois concelhos estão ligados à figura lendária do ermitão que incitou Afonso Henriques à batalha. Quem sabe isto? Por muito menos, e sem qualquer coisa viva que ligue o passado longínquo ao presente,  houve concelhos que se geminaram. Que tal os responsáveis pelos pelouros da cultura e do turismo pensarem nisto? Gentes do Barro Branco, planas e quentes, a pisarem as terras montanhosas e frias do Ermitão, no Monte das Cabeçadas, em Castro Daire, e gentes do Montemuro e pisarem e a conhecerem o lugar da batalha, no Monte das Cabeças, em Castro Verde?

Vejam a coincidência dos nomes: Castro Verde/Castro Daire, Monte das Cabeças/Monte das Cabeçadas.


Abílio/ Castro Daire, 24/11/2015

Ler 1392 vezes
Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.