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quarta, 12 fevereiro 2025 13:42

DOCENTE NA ESCOLA E FORA DELA - (6) -GENTE DA TERRA

Escrito por 

PROF. CELSO MATOS

À maneira antiga, que era o hábito das pessoas de Castro Daire se juntarem na Farmácia, no alfaiate e/ou num ou noutro lugar de convívio para falarem na sua terra e da gente dela, há dias, na oficina de sapataria do senhor Abel Ferreira, junto aos Paços do Concelho, o último lugar desse tipo de tertúlia que resistiu à modernidade, veio à conversa uma informação interessante.

 

PRIMEIRA PARTE

O comum amigo,  Joaquim Morgado, (mais conhecido por “Quim da Engrácia), sabendo-me ligado à comunicação social desde que me conhece, alertou-me para o facto de nas minhas crónicas, tendo eu sido tão amigo do senhor  JÚLIO ALEXANDRE PINTO, conhecido comerciante que foi nesta vila, há muito falecido, sobre o qual escrevi as páginas que dão corpo (514 páginas) ao livro “Castro Daire, Os Nossos Bombeiros, A Nossa Música” e sobre seu irmão AURÉLIO ALEXANDRE PINTO, na crónica “AMOR EM TEMPO DE GUERRA” como militar que foi na Índia e Moçambique na “GUERRA DE 1939-1945” (cf. Trilhos serranos,pt), não constar o nome de um NETO seu, destacado clínico adstrito à FUNDAÇÃO CHAMPALIMAUD.

Ignorância minha, confessei, mas para falarmos da NOSSA TERRA E DA NOSSA GENTE e adquirir conhecimentos ex-livros, é que nos juntamos ali,  na oficina de sapataria do senhor ABEL FERREIRA, o último MESTRE do ramo existente na vila.

1-CIENTISTAFace ao que perguntei ao “QUIM” o nome desse jovem cidadão e ele só soube dizer-me que se chamava - CELSO - e que ele exercia um cargo de destaque naquela FUNDAÇÃO, ligado à sua especialização clínica, tirada no estrangeiro. 

NETO  de quem era, com projeção pública e científica por mim ignoradas (falha minha) tendo eu lidado, em Beja, com um genro do senhor JÚLIO, o advogado chamado DR. CELSO PINTO DE ALMEIDA,  que estivera em CASTRO VERDE antes de mim, conjeturei que  bem podia ser um filho seu e não me enganei. 

Entrei em contato com o Dr. JOSÉ FRANCISCO GUERREIRO, natural daquele concelho, Ex notário em Almodôvar. E, surpresa das surpresas.

O cidadão que eu procurava, era seu amigo de infância. Tinham sido colegas de escola primária. Depois desencontraram-se nas encruzilhadas da vida, mas, recentemente, por razões de saúde, voltaram a reatar relações pessoais e a animar amizades antigas.

Deu-me os pormenores individuais e profissionais desse nosso conterrâneo, nascido em CASTRO DAIRE, que me levaram à porta certa. Coloquei o seu nome no GOOGLE e, num ápice, fiquei suficientemente esclarecido pelo “post” que a própria FUNDAÇÃO CHAMPALIMAUD partilhou no dia 1 de junho de 2022, com foto e tudo. Assim:

O Prof. Celso Matos, codiretor da Champalimaud Research e Diretor do Serviço de Radiologia do Centro Clínico Champalimaud, foi ontem premiado, com uma Medalha de Ouro pelo seu trabalho científico e clínico, pela ESGAR - European Society of Gastrointestinal and Abdominal Radiology no seu encontro anual, que decorreu este ano em Lisboa, Portugal. Parabéns, Prof. Celso – muito merecido!

SEGUNDA PARTE

Repararam bem? Esse cidadão nascido em Castro Daire, PROF. CELSO MATOS, foi agraciado “com uma medalha de ouro pelo seu trabalho científico e clínico” e eu aqui, sempre a dar destaque à GENTE DA TERRA, tão calado, por ignorância? Mas ainda bem. Fica a nota de que reconhecer o MÉRITO a terceiros pelos bons serviços prestados à COMUNIDADE, não é um favor, é uma obrigação das instituições que se guiam pela TABELA DOS VALORES  e não pela tabela do CLIENTELISMO.

De posse destes dados públicos, a partir daí, bem podia usá-los nas minhas crónicas sobre “A NOSSA TERRA, A NOSSA GENTE”, mas hesitei em fazê-lo, ciente de que nem todas as pessoas gostam que delas se fale e delas se faça ligação à terra de origem, só porque, apreciamos o seu “curriculum vitae”, ou estamos ligados, por afetos, a familiares seus, como era o caso.

2-JOSÉ FRANCISCOFace a este dilema, pedi ao meu amigo de Castro Verde, Dr. JOSÉ FRANCISCO GUERREIRO, para, junto do seu amigo de infância, sondar a sua opinião sobre os meus intentos, pois nunca seria por descuido meu, que filhos da NOSSA TERRA, mesmo ausentes dela, ligadas a ascendentes remotos ou próximos que cá fizeram vida e muitos amigos, o seu nome ficaria omisso nas minhas crónicas, sob pena de eu prestar um mau serviço à comunidade castrense.

E foi com muita alegria que, por via telefónica, o meu amigo de C. Verde, ontem mesmo, depois de um encontro que teve com o seu amigo, em Lisboa, me transmitiu o resultado das suas diligências. O PROF. CELSO MATOS dava assentimento para eu escrever estas linhas, tanto mais que tendo nascido nesta terra não renegava as origens e, criança que era, outro remédio não teve senão acompanhar os pais, Dr. Celso e Lucinda Arlete, para Almodôvar, depois para Castro Verde, e a seguir  para BEJA.

Pouco depois desse casal e filhos  abalarem de Castro Verde e fixarem residência em Beja, cheguei eu àquela vila alentejana, vindo-me a cruzar com o Dr. CELSO PINTO DE ALMEIDA, na capital do Baixo Alentejo, como patrono que era do meu colega PROFESSOR MARGALHA, na Escola Mário Beirão, que, no seu escritório, se preparou para alargar o seu múnus docente ao exercício do DIREITO.

TERCEIRA PARTE

AIVAOS-1AIVADOS-2Um dia, o DR. CELSO PINTO DE ALMEIDA, já eu tinha saído da Castro Verde, vindo a Castro Daire e envidou esforços no sentido de falar comigo. Mas não me tendo encontrado, disse ao nosso comum amigo ANTÓNIO AUGUSTO DA CUNHA, conhecido comerciante na vila, para me comunicar que, tendo ele, como advogado,  tomado em mãos a defesa do POVO DOS AIVADOS, em litigância com os proprietários de terrenos vizinhos que, rego hoje, rego amanhã, iam reduzindo a área de uso-fruto comunitário, que pertencia àquela  POVOAÇÃO, havia séculos, por sentença transitada em julgado, no tempo de D. João IV. Ganhara a causa em tribunal, ele, DR. CELSO PINTO DE ALMEIDA informou o nosso comum amigo que, em prol da causa que defendia, anexou as duas crónicas que eu havia escrito e publicado no “Diário do Alentejo, de 22-09-1982 e 29-09-1982. (cf. “REPÚBLICA DOS AIVADOS” in “Diário do Alentejo”, de 22-09-1982 e 29-09-1982)

CONCLUSÃO

Tive o prazer de conhecer esse distinto advogado que foi em Beja. Tenho  o prazer de saber do companheirismo e amizade de dois cidadãos que, meninos de escola, jogaram o berlinde e as caricas no espaço do recreio (sei lá se jogaram bola de trapos), meninos que os caminhos da vida separaram e só recentemente voltaram a encontrar-se. Ambos podem orgulhar-se de serem quem são e das profissões que escolheram. Um é o PROF. CELSO MATOS que, no exercício do seu múnus, ausculta, faz, lê, decifra, analisa radiografias e pratica a HUMANIDADE de devolver saúde, esperança e vida ao semelhante que requer a sua  CIÊNCIA e os seus serviços. O outro é o DR. JOSÉ FRANCISCO GUERREIRO, que exerceu a profissão de NOTÁRIO  em Almodôvar, e em CASTRO VERDE, com a sua EQUIPA de serviço, mantém na RÁDIO CASTRENSE, (há quantos anos, senhor?) o programa PATRIMÓNIO, difundido pelo éter, esperança, saúde e vida da CULTURA ALENTEJANA e as suaS GENTES. Tantos anos no ar é obra! Quem, ao nível local, reconhece isso? Parece que a viola CAMPANHIÇA tem de fazer vibrar o MÉRITO de cidadania nas suas cordas e o DESPIQUE AO BALDÃO, a incluir no repertório de justiça a INGRATIDÃO.PATRIMÓNIO

Estes dois amigos da mesma idade, a rondarem os 70 anos de vida, estão ambos de parabéns pelos serviços técnicos, científicos, culturais e humanos que prestam à sociedade. Podem marcar um encontro e saudavelmente voltar a jogar o berlinde e a carica, como crianças e a beber um copo, numa qualquer taverna,  como adultos. A vida, como disse João de Deus, “é um ai que mal soa…”

Da minha parte, tive muito gosto em escrever este APONTAMENTO todo ele ligado pelo FIO DE OURO saído do fuso invisível de mágica fiandeira, sempre empenhada em atar num molho e manter unidas os pessoas que são amigos e/ou conhecidas por acaso, nesta selva HUMANA do “salve-se quem puder”. E eu estou certo que o meu amigo JÚLIO ALEXANDRE PINTO, cidadão sociável e de solidariedade, que tanto gostava de ler os meus escritos, se fosse vivo, teria muito orgulho deste seu NETO CIENTISTA, dos amigos que tem e do bom uso HUMANO que faz da CIÊNCIA em que se especializou.

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.