ESTAR E NÃO ESTAR
Fisicamente estava ali, naquele lugar
Mas não, não era assim mentalmente
Sempre, sempre, sempre a desejar
Estar no sítio donde estava ausente.
	  
	  	  	  
	  
	  	
Conhecia, em redor da minha aldeia,
Penedos, encostas, rios e fontes
Tudo muito perto, para a minha ideia
Ávida de voar para outros horizontes.
 
Mudar de sítio, assim, continuamente
Era, julgo eu, uma clara obssessão
Uma marca da minha irrequita mente
Sempre a levitar, a descolar-me do chão.
 
Se eu estava nos montes sozinho
Ansiava por ausentes companhias
Fosse em vereda, carreiro ou caminho
Era assim o meu sentir de todos os dias.
 
Uma forma de “estar e ser” angustiante
Isto de viver dessa maneira em criança
Punha-me numa situação interpelante
E aprendi que “pensar muito” também cansa.
 
Vieram os livros, as leituras, o estudo
Da psicologia e outras ciências afins
Li muito, autores vários, quase tudo
Sem resposta que, satisfatoriamente,
Esclarecesse aquela irrequieta mente
Desse meu juvenil “estar e não estar”
Ali, naquele sítio e noutro sítio a pensar.
 
Assim em criança, assim a vida inteira
“Estar e não estar” e já não vejo maneira
De ser difente o meu “ego”. De tal sorte
Que nem psicologia e outras ciências afins,
Me convenceram de não ser assim até à morte
Esse meu levitar e desaparecer nos confins.
Abílio/setembro/2024