PEDRAS COM ALMA
Engameladas
Puídas
Com séculos de história
Estão as escadas
Da minha moradia
Restaurada.
Não sei ao certo,
Não tenho memória
De quando ela foi construída.
Mas, olhando de perto
Estas escadas,
Pisando-as todos os dias,
Pergunto-me quantas vidas
Quantos tamancos
E sapatos as romperram assim
Ou por elas foram rompidos
Ao longo dos tempos.
Pergunta tonta.
Eles foram tantos
Que não têm conta.
E, de resto,
O que me leva a mim
O que me importa
Interpelar tempos idos
De gente morta,
Seus trajes, antamentos
Sentimentos e pensamentos?
Desgastadas,
Engameladas
A vê-las
A subir e a descê-las
Nelas deixo também
As minhas pegadas
Pois, nos tempos que vêm,
Alguém
Queira lê-las.
Abílio/novembro/2021