A primavera, cores aos molhos, no duelo eterno com o inverno, não tem escolha, manda-o bugiar, atira com ele à cova, e tudo o que é velho renova. Airosa, enterra a nudez esquelética e sofrida por cada árvore, por cada planta, vivida na estação fria. E tudo quanto brota da terra ela veste de cor e de alegria, ouvida no gorjeio dos passarinhos. Mas neste seu afã de renovar, de alindar, de remoçar, de manhã, de noite e de dia, neste seu afã a que sempre estou atento, pergunto-me, entre felicidade e desalento: se tudo ela renova, se tudo alinda e tudo remoça assim, porque me exclui ela a mim?