
AS PEDRAS DO LEGO (2)
É imperioso que retome o meu texto AS PEDRAS DO LEGO aqui alojado no dia 13-10-2015. Nele disse que:
"(...) mal saídas das urnas, expostas sobre a mesa, o Presidente da República, que detesta a cor vermelha, estendeu a mão e ... zás, de uma assentada, pô-las fora de jogo. Estas não encaixam. Tem sido assim há quarenta anos e assim vai continuar a ser. E logo atrás de si, batendo palmas, foi a turbamulta de alguns politólogos, jornalistas, observadores, ólogos, istas e mais doutores. Pois. Essas não encaixam. Nunca encaixaram. Entoam os sábios em coro frenético".
E espremeram a esponja até à última gota. Todos (como eu os entendo) gastaram o verbo a sublinhar as fronteiras das "várias esquerdas", aquelas que historicamente nunca se entenderam e davam mostras de se ENTENDEREM. Coisa nova, para mentes velhas. Coisa movediça, para neurónios cristalizados. Nem tudo estava perdido. Faziam-se apostas. O Presidente da República, seguindo a tradição, indigitaria o cabeça da lista ou coligação vencedora. Nem podia ser de outra maneira. Acertaram. Ele assim fez. Houve foguetório. Mas, incauto, levado pelos pensamentos mais profundos, replicou em voz grossa e ameaçadora o fantasma do medo acenado em campanha por Pedro e Paulo. Procurou dividir os deputados, naquela expressão subtil de "apelo à sua consciência". Uma trindade em frangalhos, aparentemente forte, cimentaria outra trindade, aparentemente frágil. E a Democracia, seguindo os PASSOS formais estabelecidos na Constituição, ainda abre algumas PORTAS de esperança. Era a eleição do Presidente da República. Realizou-se o acto solene em conformidade com a Lei Máxima da República: o voto secreto em urna por cada um dos deputados. Um estrondo: 108 votos para o candidato da Direita e 120 para o candidato da ESQUERDA. Aqui d'el Rei! Quebrou-se a tradição. Em quarenta anos de história democrática, a segunda figura do Estado sempre saiu da bancada do partido mais votado. Barafustou-se. Arregimentaram-se hostes de comentadores e sábios constitucionais pró e contra. Assim era de facto. Mas a tradição também dizia que a ESQUERDA nunca mostrara vontade de união e desta vez estava disposta a fazê-lo. E a saga prossegue. Indigitado o primeiro ministro, formar-se-á o Governo e o Governo será chumbado no Parlamento. Mas... O Titanic ainda flutua. A orquestra continua a tocar como se nada tivesse acontecido. O PSD/CDS, depois de quatro anos a ostracizar o PS, ameaçando que com ele teríamos novamente o Comunismo à porta, voltaríamos aos tempos do PREC, Marco António até evocou a data de aniversário que se aproxima, procura agora, através da mesma boca, sublinhar os pontos comuns existentes entre os programas do PSD e do PS. Falinhas mansas. Como eu os entendo. Dividir para reinar.
Esperemos!
Abílio/outubro/2015