Peças de diversas cores - laranja, rosa e vermelho - mal saídas das urnas, expostas sobre a mesa, O Presidente da República, que detesta a cor vermelha, estendeu a mão e ... zás, de uma assentada, pô-las fora de jogo. Estas não encaixam. Tem sido assim há quarenta anos e assim vai continuar a ser. E logo atrás de si, batendo palmas, foi a turbamulta de alguns politólogos, jornalistas, observadores, ólogos, istas e mais doutores. Pois. Essas não encaixam. Nunca encaixaram. Entoam os sábios em coro frenético.
Mas eis que essas peças, gente que são, votadas e eleitas que foram, destoando do seu histórico, tendo aprendido com ele (há pessoas predispostas a aprender, em fodo o tempo e outras somente a ensinar todo o tempo) reagem e dizem: alto lá, encaixamos, sim senhor, encaixamos, encaixamos, quem diz que não? E ao lado delas estava António Costa, desafecto à expressão "arco da governação" entra no coro: alto lá, ai encaixam, encaixam, quem diz o contrário? Foi a total baralhação.
E caiu o Carmo e a Trindade. Choveram raios e coriscos. Não podia ser. A inteligência política nacional, habituada a ver nas peças vermelhas simples ornamentos de jogo, uma espécie de mirones que, nas mesas dos nossos jardins públicos, assistem ao jogo da sueca, mandam uns bitytes mas não interferem na vaza, vai de tirar todos os esqueletos do armário. As contradições programáticas e ideológicas. Zumba catrapumba. O diabo a sete. Alianças e coligações são exclusivas e privilégio da DIREITA. Mas algum dia se viu? Puta que pariu. Da ESQUERDA, nem no Liberalismo do século XIX, nem na República caída em 28 de Maio de 1926, nem após o 25 de Abril. Olhó PREC? Olhós mercados? Porquê agora? Toca a bater. À direita e à esquerda. Igual pancadaria só no tempo do Malhadinhas com o seu lódão a varrer feiras. Podia lá ser uma coisa dessas? O PS perde a sua identidade. O PS não respeita a sua história. O lugar do PS é o centro. Sempre assim foi. Aqui d'El-Rei!!! Bradaram monárquicos, proto-monárquicos, marcianos, lunáticos, oligárquicos, e, muito estranhamente, alguns republicanos, socialistas e laicos.
Mas António Costa, de costas largas, aguenta todas as bordoadas e mantém o DIÁLOGO. Metido, desde jovem na política, recebeu, na casa paterna, a vacina contra o "sectarismo" e "anti-comunismo primário". Conhecido por ser um político de consensos, mostra coragem e sabedoria para enfrentar a ruptura com o passado velho e relho.
É cedo para saber-se o resultado das DILIGÊNCIAS COSTINAS, mas enquanto o pau vai e vem folgam-me as costas. E estou em dizer que o meu gozo e deleite político é proporcional à comichão que não deixa dormir Passos Coelho e Paulo Portas. Que mais não seja, só por isso, já considero o meu voto convicto e útil no PS. Se ele servisse para viabilizar uma o Governo da coligação da Direita, era para mim uma TRAIÇÃO.