
Continuei a navegar e cheguei ao portal do "ARQUIVO CIENTÍFICO TROPICAL (DIGITAL REPOSITORY)". É de lá que transcrevo, ipsis verbis, o texto se segue. Com a devida vénia ao seu autor, faço-o em MEMÓRIA de um CIENTISTA e de um HOMEM SIMPLES. Um pedagogo. A ele (tal como a Alexandre Lobato (lá) e a Borges Coelho (cá) devo o incentivo de prosseguir nos caminhos da investigação. Rita-Ferreira, analisando e classificando os meus trabalhos, disse-me um dia: "escolha já um nome de guerra e publique o que investiga, pois além de científicos você imprime um cunho literário naquilo que escreve".
E vejam o que são as encruzilhadas da vida. Sendo ele meu professor, eu cheguei a ser professor de um filho seu. E com este me cruzei, um dia, em Castro Verde (Alentejo) que por ali passou a caminho do Algarve, à boleia. Nunca mais nos vimos, nem soube deles até ontem. Eis o texto:
ANTÓNIO RITA-FERREIRA

"Nasceu em Mata de Lobos, em 1922. Foi para Moçambique em 1924 e aí viveu até 1977. Completou o ensino secundário em Lourenço Marques e cursou Estudos Bantos na Universidade de Pretória (África do Sul). Ingressou nos Serviços da Administração Civil atingindo a categoria de Administrador de Circunscrição. Em 1963, transitou, como primeiro assistente, para o Instituto do Trabalho. Em 1971, aceitou o cargo de chefe de Serviços no Centro de Informação e Turismo, onde ascenderia a técnico-director, e depois da Independência, a director. Simultaneamente, leccionou História Pré-Colonial na Universidade Eduardo Mondlane (1975-1977). À margem das ocupações profissionais, dedicou-se à investigação nos domínios da Antropologia e da Sociologia, tendo publicado numerosos trabalhos. Após o regresso a Portugal, participou no Projecto de Microfilmagem de Documentação sobre Moçambique existente na antiga metrópole (1983-85) e prosseguiu as suas pesquisas. O seu mais recente livro intitula-se Coletânea de documentos, notas soltas e ensaios inéditos para a História de Moçambique (2012). Faleceu em Cascais, a 20 de Abril de 2014.
António Rita-Ferreira dá-nos conta da fixação dos seus avós e dos seus pais em Moçambique; da sua infância em Lourenço Marques; de uma visita à metrópole em 1933; do seu percurso escolar; da sua carreira no quadro administrativo colonial e dos diversos locais onde trabalhou (Mongincual, Bráuè, Marromeu, Quelimane, Ressano Garcia, Macanga, Homoíne, etc.); da ida a São Tomé como comissário 'ad hoc' acompanhando uma leva de contratados; as eleições presidenciais de 1958; o seu interesse pelos estudos antropológicos e as pesquisas em bibliotecas europeias; a polémica com Marvin Harris; da sua actividade no Instituto de Trabalho, Previdência e Acção Social de Moçambique; o seu estudo Os Africanos de Lourenço Marques; a sua colaboração na imprensa laurentina; a actividade docente na Universidade Eduardo Mondlane, depois da independência de Moçambique; o regresso a Portugal, a participação no projecto de microfilmagem dos documentos sobre Moçambique existentes em arquivos portugueses, a participação em encontros científicos e as suas publicações mais recentes".
Abílio/junho/2015