Ora, dada a globalização que hoje vivemos, com produtos no mercado vindos das mais diversas fábricas e lugares e mais variados preços, não se me afigura descabido publicar aqui a "postura" municipal que, nesse mesmo ano, em Castro Verde, tabelava o preço do calçado e a sua qualidade.
Para todos aqueles que se interessem pela HISTÓRIA, que queiram entender melhor o PRESENTE olhando o PASSADO (não para ressuscitá-lo, mas para entendê-lo) têm aqui uma pérola que mostra como se faziam as cousas e a relação que havia entre governantes e governados.
«Em 8.5.1680 na presença dos oficiais da Câmara, João Gonçalves e Estêvão da Costa, moradores na vila, sobre os Santos Evangelhos, fizeram a «taxa» dos sapateiros na forma que todos os anos se faz e é obrigação fazer-"se cada coisa por seu preço justo para que não fossem os moradores e nem os oficiais de sapateiros lesos nem enganados (…). Por parte do povo [louvaram] o dito João Gonçalves e por parte os oficiais dos sapateiros o dito Estêvão da Costa", [concluindo]:
«Levarão os (…) oficiais de sapateiros por uns sapatos de vaca preta ou branca sobressolados de novo , com suas palmilhas de vaca e sobressolas do rijo e entressolas de espaldar e virões e revirões de vaca – 600 reis. E por cada par de sapatos de vaca, sobressolados, cm palmilhas de vaca e solas do rijo, viras e revirões de vaca quinhentos
reis = 500r; e por cada par de sapatos que sobressolar, sendo as empenhas do dono, com palmilhas de vaca e solas do rijo, 280 reis; e os mesmos sapatos levando de mais do acima dito entressolas do espaldar, levarão 350 reis; e de deitarem umas solas por cima, sendo suas dos sapateiros e do rijo levarão delas e de suas mãos 180 r; e de deitarem umas solas por cima, sendo as solas do dono dos sapatos levarão $040 r; e por cada tomba, quer seja de vaca ou de cordovão, levarão $005r; e por cada par desapatos novos de vaca que eles fizerem para mulher, pondo eles as empenhas e palmilhas de carneira e solas de espaldar com suas viras de carneira, 280 reis; e se sobressolarem uns sapatos para mulher, dando ela as empenhas com palmilhas de carneira e solas de espaldar e viras e das suas mãos levarão 150r; e de uns sapatos que fizerem para moço que não passe de catorze anos levarão pondo eles tudo o
necessário e de suas mãos 280r; e por cada par de solas do rijo que venderem na mão, sendo de Beja, 120r; sendo as solas de Tavira e do rijo 140 reis; e por cada par de solas de espaldar, sendo de Beja, levarão $060r; e sendo de Tavira levarão, $080r; [e assim] os louvados fizeram a dita taxa para por ela o sapateiros se regerem e governarem este presente ano na forma dela e lei do Reino e que nenhum oficial do dito ofício pudesse alterar nem levar maiores preços que os aqui taxados [sendo] obrigados a tirar suas taxas e não alegarem ignorância e não as tirando se procederia outrossim contra os sobreditos na forma das posturas deste senado (…)
Oficiais da Câmara:
Juiz Presidente: Belchior Afonso
Vereador: Martins Afonso
Procurador do Concelho: Manuel Gomes"