De todos esses artefatos destaco a moeda romana encontrada em Mões, na Portela, à qual ele se refere assim:
“Trata-se de um denário de prata, cunhado em Lugo e datado da época de Tibério que reinou entre 14 e 37 d.C. A moeda apresenta no anverso uma cabeça laureada à direita e a legenda TI CAESAR DIVI AVG F AVGVSTVUS. No reverso tem gravada uma figura indecifrável e a legenda PONT MAXIM”.
E conclui: “é mais uma prova da romanização destes lugares no século I da nossa Era.” (pp. 110) E na página seguinte estampa a imagem da moeda. O seu anverso, reverso e legendas.
Não vou discorrer sobre a INSCRIÇÃO existente no penedo de LAMAS DE MOLEDO, nem sobre o troço da ESTRADA ROMANA que, pela parte poente, circunda o morro onde se alcandorou o velho “crasto” celta, romano, medieval e tempos fora, que se tornou o casco da nossa vila, sem sinais de muralhas e de opidum antigo. Sobre isso já deixei matéria bastante impressa, digital e em vídeo, lamentando eu nesses meus trabalhos, claro está, que desse troço de ESTRADA ROMANA (o mais extenso que se conhece nas redondezas geográficas) devidamente requalificado, se não tenha feito dele um atrativo turístico, nestes tempos em que tanto se fala de TURISMO CULTURAL. Sim, muito se fala, mas tão pouco se faz.
E não discorrendo eu sobre isso, pois seria fazer “chover no molhado” o que me leva então a revisitar a matéria da ROMANIZAÇÃO no concelho de Castro Daire?
É simplesmente o facto de mostrar uma verdade de La Palice: a história, seja ela local, nacional ou universal, é sempre uma obra inacabada, uma obra em aberto. E toda e qualquer abordagem feita, por mais fundamentada que seja academicamente, a descoberta de documentos ou artefactos novos, podem alterar o que foi “dito e feito” ou, simplesmente, complementar e consolidar tudo isso, até que novas descobertas e abordagens apareçam.
E esses documentos e artefactos podem resultar da laboriosa e cansativa investigação académica, ou do cansativo e laborioso trabalho do camponês de poucas letras que, cavando a sua horta ou a sua leira, deixando nelas o seu suor, se dá conda da enxada ter batido em algo estranho. E, sentindo isso, curva a espinha, mete os dedos na terra e, num rompante, sem esperar, tem na mão uma RELÍQUIA HISTÓRICA.

Aconteceu na Relva, freguesia de Monteiras, com o senhor Agostinho Miguel que, no ano de 2007, andando a cavar o seu quintal, junto da sua residência, no sítio do «Oradouro», encontrou um molde céltico lavrado em xisto, partido ao meio por golpe de enxada ou ferramenta semelhante, sobre o qual já escrevi e publiquei uma crónica ilustrada. (Ver fotos ao lado)
Aconteceu também, recentemente, com o senhor Agostinho da Silva, de Lamelas, que passeando-se no sítio denominado a QUINTA, descobriu, em 2022, a peça que me levou a escrever esta crónica, cuja ilustração ponho mais abaixo. Peça de que farei, posteriormente, um vídeo. (ver foytos mais abaixo)
É uma peça, cujo metal de cunhagem ignoro, pois não sendo especialista na matéria, tão só conhecedor de que, na antiguidade, tanto as moedas, como as medalhas, podiam ser cunhadas usando variados metais e ligas, nomeadamente, o ouro, prata, cobre e níquel, ferro, estanho, platina, chumbo e zinco.
Por isso, não me atrevo a dizer qual o metal ou liga em que ela foi cunhada. Mas, mesmo assim, arriscaria ser bronze prateado. Tem sete centímetros de diâmetro e exibe, a olho nu, os maus tratos dados pelo tempo e trambolhões sofridos serra abaixo, por caminhos, cômaros, lameiros, rios e ribeiros.
Dito isto, seguindo o método do professor João Inês Vaz, passo a descrever:

No anverso mostra uma cabeça com capacete e penachos seguramente identificado com a “guarda pretoriana”. E no reverso uma águia bicéfala tendo no centro um escudo, esquartelado, cujos elementos em cada quartel não consegui decifrar. No topo, entre as cabeças de águia, está uma coroa e um furo, este feito posteriormente, sinal evidente da peça ter sido utilizada como adorno pendente.
Assim sendo, temos mais uma prova metálica (mais medalha pendente do que moeda) a testemunhar a presença dos romanos neste concelho.
E sabendo nós que o Imperador Constantino pôs fim à GUARDA PRETORIANA no ano de 312, ciente das ameaças que esse corpo militar representava no império (fez cair alguns imperadores) podemos concluir que esta PEÇA terá sido feita antes desse ano e, perdida ou deitada fora, por inútil, caída ali mesmo ou ali chegada por arrastamento, peça de aluvião, bem andariam os responsáveis pelo Pelouro da Cultura Municipal, se procedessem à sua aquisição com vista a guardá-la e expô-la no MUSEU com o zelo que merece todo e qualquer DOCUMENTO HISTÓRICO.