Curiosas informações estas, pois as três provações fizeram parte do Couto da Ermida, cujos rendimentos (para além das doações e dos legados pios que foram muitos) provinham essencialmente da agricultura e da pecuária. Daí não ser despiciendo pensar que, tanto a «especialidade» e o «saber-fazer» de S. Joaninho, do Vilar e da Carvalhosa, tenham o dedo e os ensinamentos dos monges, ao ponto de se projetarem pelos tempos fora.
De resto, senhores de terras espalhadas pela serra fora, desde S. Joaninho à Carvalhosa, os seus domínios incluíam Cujó, topónimo que eu penso derivar de «queijotes» e não do étimo latino «culiolum» ligado à plantação de nogueiras, como os eruditos têm proposto.
Certo é que se recuarmos a meados do século XIII e fizermos companhia aos «inquiridores» que D. Afonso III mandou pelo Reino a saber dos foros que lhe eram devidos e como eles estavam a ser desviados dos seus cofres e celeiros para os cofres e celeiros dos «possidentes» profanos e religiosos, saberemos que Martinho João, Juiz de Moção, disse que «homines de fratribus de hermitagium Donni Roberti, que morantur in Vilar, laborant et habent hereditatem Regis, de Maura Morta, in loco qui dicitur Carvalhal de Johane, et nullum fórum faciunt Regi», o que mostra que havia monges a «morar no Vilar» e explorar uma herdade régia no sítio «Carvalhal do João» sem pagarem qualquer tributo ao Rei.
Dizendo, embora, que os monges moravam no Vilar não é de crer que eles estivessem integrados na povoação e, por isso, não me passaram despercebidas as ruínas dos pardieiros que se encontram na vertente da «serra da Lapa», às vistas do Vilar, sitas na margem esquerda do ribeiro Pombeiro que desce das bandas do Mezio e passa aos pés de Mouramorta.
Ruínas distribuídas por dois complexos não muito afastados um do outro, ambos eles se caracterizam por compartimentos pequenos, seguramente, impróprios para recolha de gados ou ferramentas agrícolas, à semelhança das clássicas alcarias junto de terras produtivas distantes dos povoados. Sem descartar a possibilidade, também, de terem sido uma LEPROSARIA, com rio por perto. E tirando as ruínas de casas de morada e lojas, de um lado do caminho, as demais tem

aspeto de celas individuais, levantadas ao lado de uma boa lameira com água de nascente no cimo, estancada por um «poçanheiro» (*) cuja função era esvaziar a poça automaticamente, só estudos mais aprofundados com o apoio da arqueologia se poderá saber se era ali ou não que os monges habitavam, se foi dali ou não que saiu a arte de «saber-fazer» manteiga de vaca pela qual a aldeia do Vilar deixou nome no concelho e arredores.
(*) Texto publicado em 2004 no meu velho site, migrou, hoje mesmo para este novo espaço, com a nota seguinte: vide também link do vídeo feito e alojado por mim no Youtube, recentemente com o título «POÇANHEIRO»