A dada altura, estando nós em tempo de ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS, eles, ambos pessoas influentes no meio local, entraram a "eleger" os seus candidatos de preferência, cada qual aduzindo "iluminados" argumentos a favor daqueles que cada qual gostava de ver na cadeira municipal. Descortinei que isso se prendia mais com os seus interesses pessoais e de família do que com os interesses do concelho. Preferiam ver eleitos candidatos susceptíveis de serem manipulados, e não candidatos capazes de levarem a cabo um programa de interesse comum. Fizerem e desfizeram listas. Este é melhor por isto, aquele é melhor por aquilo. Meterem nas listas pessoas que eu sabia não estarem minimamente interessados num qualquer cargo político, e "discorriam" sobre estratégias de campanha e de arregimentação do voto: umas festarolas hoje, umas promessas amanhã, aqui ou ali um contacto pessoal em torno de um chouriço e de um copo de vinho e já está. O candidato sobe ao poder de perna alçada.
Eu, de quando em vez, esforço inglório meu, lá ia tentando "acordá-los", daquele torpor ou lucidez eleitoral em que os destinos do concelho se resolviam em torno de uma mesa de jantar, onde as garrafas de vinho se perfilavam como soldados em parada. Às páginas tantas, voltando eles a "eleger" um cidadão que eu sabia categoricamente não estar interessado numa carreira política, atirei-lhes de chofre: olhem lá, não seria melhor vocês perguntarem-lhe primeiro para ver se ele queria integrar as listas?
Eram 2 horas da manhã e as eleições terminaram ali mesmo, naquele momento, porque o dono do restaurante, com toda a educação, disse-nos:
- Meus senhores, está na hora de fechar o estabelecimento.