Hoje, estava eu nos sanitários do Jardim Público, em Castro Daire, quando entraram dois amigos a cavaquear sobre algo que metia uma mulher aposentada, com choruda reforma. Eles iam ao que se sabe e, lado a lado, virados para o WC, diz um para o outro:
- Alguém anda a comê-la!
- A quem, à reforma?
- Não, a ela.
- Que chatice, já não a encontro
.- Quem a reformada?
- Sim, sim, ela está reformada, mas não é aquela de que falávamos.
- Quantos anos tem, ó ti Jaquim?
- Oitenta e nove. É por isso que ela se me escapa. Mas não desisto, hei de apanhá-la.
- Com essa idade, é melhor desistir, ó ti Jaquim.
- Não desisto, não. Nem que tenha de arranjar um alicate de pontas, senão mijo nas calças.
Saí. Eles lá ficaram a falar das duas "reformadas" e vi-os, mais tarde, sentados num dos bancos do jardim. O herói, de oitenta e nove anos, fazia jus ao tempo. Bigode e pêra à António José de Almeida, suspensórios, bengala, estava ali, uma figura da Primeira República, arrancada aos álbuns de fotografias da época. E, ainda por cima, a falar pelos cotovelos. Republicanos? Gente tesa, gente tesa. Lembrei-me da conversa ouvida pouco tempo antes e perguntei-me a mim próprio o que pensaria e faria eu quando chegasse aquela idade de reforma.
Abílio, 12/08/2013