Vi fecharem-se alguns desses cafés por força do rigor fiscal imposto pela "governança" que temos. Vi os idosos encostados por perto, privados de poderem continuar ali a gastar o resto das suas solas, tudo porque quem nos governa não conhece efectivamente o país que foge à quadrícula do Terreiro do Paço. Eles, os governantes, continuam a pensar, como bem disse Eça de Queiroz, "Portugal é Lisboa e o resto é paisagem". Conhecessem eles o país, tivessem eles sensibilidade social, tivessem eles respeito por todos os que persistiram em manter no mapa as suas aldeias, e esses pequenos espaços comerciais não só seriam libertos da teia burocrática das Finanças, mas até, sem favor nem "mercê" seriam isentos de pagar impostos. A sua função social seria "imposto bastante" para, na folha "exel" dos governantes, em vez de só números se vissem também pessoas.
Há muito que as políticas centralizadoras conduziram à desertificação do território e este apertar da malha fiscal, medindo tudo pela mesma rasa, é o golpe final. Os novos andam por longe e os velhotes que se amanhem, que rompam os fundilhos das calças sentados nos degraus das suas casas e, pensativos, debruçados com a cabeça entre pernas, mãos apoiadas nos joelhos, congeminem na morte da bezerra e se apaguem de vez, deixando Portugal ainda mais deserto.
Imperdoável. Para essas vítimas serranas vai a minha solidariedade.
NOTA: Este apontamento foi publicado no meu mural do Facebook no dia 11 de fevereiro de 2013. Veio hoje ao CAPÍTULO DAS MEMÓRIAS trazido pela EQUIPA DO FACEBOOK, sempre atenta. E hoje mesmo o tresladei para este meu espaço. O seu conteúdo bemmerecia ser lido e divulgado. Os nossos políticos têm muito que aprender e não apenas com os fogos e as estradas que se esbarrondam.