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quinta, 03 maio 2018 17:54

GATUNAGEM

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GATUNAGEM

 Neste mundo agitado da política e da finança, a imprensa a descobrir cada dia, qual dos governantes mais roubou, ou deixou roubar, em prejuízo do BEM COMUM, deu-me para revistar a obra de Aquilino Ribeiro, “Príncipes de Portugal”.

 Ora este senhor, não é um português qualquer. Os seus restos mortais repousam no “Panteão Nacional” e tal não se deve, seguramente, a coisas menores. Por isso o leio. Por isso o aprecio. E, em muito do que ele pensou e escreveu, encontro os fios com que se teceu o pano de que se vestem certos figurões que, no solo pátrio, não arriscam a vida nas encruzilhadas, como os corajosos salteadores de antigamente: “a bolsa ou a vida”, os quais, às vezes, tinham por resposta um balázio em vez daquilo que pediam.

Dito isto, vejamos que Aquilino Ribeiro abre este seu livro com o retrato de Viriato e dele diz o seguinte:

AQUILINO - RED«Os romanos quando taxaram Viriato de ‘dux latronum’, capitão de salteadores, não o caluniaram totalmente (...) os Lusitanos davam-se à pastorícia (...) mas semelhante lida não os inibia de exercer outros ofícios, um deles velho como o mundo: saltear os haveres do semelhante. No fundo era uma prática como outra qualquer, com todos os foros de universalidade. A forma é que tem variado, rebuçada em leis e mandamentos, especiosamente divergentes, nada mais natural, portanto, que as tribos das serras, onde a vida era áspera é difícil e os moradores mais de uma vez deviam adormecer com o estômago a ladrar, acumulassem com a função comum a de salteadores. Era uma ordem da cavalaria de tantas consagradas pela História, como, por exemplo, mais tarde a do Templo. Roubavam-se mais ou menos de pé fresco uns aos outros e em caterva abatiam-se sobre as terras fartas e latinizadas do Sul. Em três tempos, então, passavam-se os galfarros a tudo o que tivesse a aparência de boa presa. O ditado ‘olho vê, pé vai e mão pilha’ marca o ritmo hispânico quanto a tais empreendimentos (...) pilhar o vizinho celtibérico ou vetão, apaniguado do romano, era virtude e não crime. Não mareiam pois a coroa de louros de Viriato os adjetivos pejorativos que Valério Máximo, Apiano e Cassiodoro lhe infringem, tais como ladrão refinado e capitão de quadrilha.

 -  Com muita honra - diria ele.”

Pois, e parece que com muita HONRA e PROVEITO anda por este Portugal inteiro muito «viriato» a assaltar-nos a bolsa e a vida, refastelados num qualquer cadeirão de escritório, revestido de cabedal assente em alcatifas de damasco.

Ao que chegámos nós? Ele é a energia elétrica, ele é as comunicações, ele é o selo de circulação, ele é os combustíveis, ele é...tudo. E os “contratos blindados”, como agora se descobre e diz, responsabilizam quem? Quem põe fim a tal ladroagem?

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.