CACIFO DE FURÃO
Os meus dois filhos cresceram rodeados do carinho e dos afetos que lhes eram devidos pelos pais. Mas também cresceram a ver os progenitores, ora agarrados aos livros, ora a corrigir os testes dos alunos, ora a restaurar velharias, quaisquer que elas fossem: desde uma seitoira (foice) que gastou os dentes a segar erva e centeio, ou um podão, cujo fio se tornou rombo a cortar silvados à beira de um caminho ou de leiras de semeadura.
Ambos professores de História, restaurar "velharias", gastas ou fora de uso, tornava-nos mais fácil a tarefa docente. Não debitávamos somente o SABER TEÓRICO aprendido na Faculdade, já que cada peça se ligava a uma função, a um tempo, a uma pessoa, a uma família, a uma comunidade, a um país. Cada peça era uma lição de INDÚSTRIA, de TÉCNICA e de CULTURA, de TRABALHO ou de LAZER.
Na minha banca de trabalho estou agora a restaurar um CACIFO de furão. Ele irá ilustrar um texto que estou a "rascunhar" para o meu novo livro com o título «O Homem da Nave, Devoto de Diana» com vista a transmitir aos meus filhos e netos, e bem assim a todos aqueles que têm o vício de APRENDER (não importa a idade), algo das ARTES e MANHAS que, vindas de tempos remotos, chegaram até ao meu tempo, mas já não chegaram ao tempo deles. São as marcas materiais da EVOLUÇÃO HUMANA, da relação do HOMEM com a TERRA e com ANIMAIS, DOMESTICADOS ou BRAVIOS.
NOTA. Posto no Facebook em 10/03/2015