Não. Não me refiro à invasão deles. Mas eles me fizeram RELER alguns livros, andar por caminhos andados, e lembrar invasões de tempos idos, (nossas e de outros) que para mim, não foram apenas eventos colocados na barra cronológica do tempo. Um curso de HISTÓRIA obriga a saber de cor e salteado que fomos invadidos por Fenícios, Gregos, Cartagineses e Romanos, por Vândalos, Suevos, Alanos, Visigodos e Muçulmanos. Era isso. Assim diziam os livros, assim havia que se aprender.
Mas não. Cantarolar isso de cor e salteado nunca me bastou. E se havia livros e autores que punham a tónica na IDENTIFICAÇÃO e CRONOLOGIA dos POVOS INVASORES, outros havia que, pela abordagem que faziam aos mesmos factos, melhor colhiam a minha sensibilidade de ESTUDANTE, sempre ávido em saber e compreender o BICHO HOMEM, nas suas façanhas heróicas e fraquezas mesquinhas.
O meu pensamento não se prendia apenas aos nomes dos INVASORES, mas também à massa anónima dos INVADIDOS. Aqueles que, na situação de PERDEDORES, eram obrigados a entregar tudo aos GANHADORES, as suas casas, terras, mulheres e filhos. Tornarem-se servos, escravos ou pagadores de impostos.
Condoía-me por eles. E esta minha forma de ver as coisas, nunca me colocou, na vida, do lado dos PODEROSOS. Quaisquer que eles fossem. E enraizou em mim a desconfiança de que, nas minhas origens remotas, deve estar um elemento desses POVOS PERSEGUIDOS e espoliados.
Não será propriamente por acaso que me são muito mais atractivos os livros de Oliveira Martins ("A História de Portugal", "Portugal Contemporâneo", "A História da Civilização Ibérica" e outros) que voltei a ler, a par de outros investigadores historiadores NÃO menos sérios.
Não será propriamente por acaso a REPUGNÂNCIA que senti (e não fui o único, seguramente) ao ver a rasteira dada por aquela "jornalista" na Hungria àquele pai refugiado com um filho ao colo. Que desumanidade. Estamos no século XXI. Mas com Oliveira Martins, o mundo que me rodeia, fez-me retornar ao século VIII. Ao ano 711. À passagem de Tarik à Ibéria. Parece-me que foi ontem.
Abílio/setembro/2015