
Sem esse núcleo de figuras, distribuídas por íngremes montes e escabrosos caminhos que levavam a uma pobre CABANA com um MENINO deitado sobre ásperas e picantes palhinhas, não havia PRESÉPIO, nem NATAL. E ninguém se interrogava que MÃE era aquela que, em vez de aconchegar ao seu peito a criancinha recém-nascida, transmitindo-lhe o calor do seu colo, a expunha, assim, pouco mais que nua, sobre palhinhas soltas despidas de calor e aconchego humano. Claro que num quadro campesino assim recreado em miniatura, valia ao “crianço” o pródigo e carinhoso bafo dos animais que, em tais carinhos, substituíam os pais. E, então como hoje, não faltam ocasiões para vermos os quadrúpedes a darem boas lições ao humanos no que respeita a proteger as suas crias.
De há uns tempos a esta parte tornou-se evidente o abandono da representação FIGURATIVA, pura e dura, tornando-se visível o crescente gosto pela representação SIMBÓLICA, seja porque as novas gerações, deixaram de andar descalças ou de tamancos, elas, que na sua maioria ascenderam a outra forma de vida, andam agora rotas por opção, elas aprenderam projetar a história, a cultura, as tradições, seja por tudo isso, ou seja porque entre nós vão desaparecendo os burrinhos e as vacas de trabalho e de leite, por força da agricultura tradicional abandonada.
Com efeito, neste ano de 2024, entre as muitas representações de PRESÉPIOS ARTESANAIS (alguns deles de inspiração pioneira) expostos no Largo das Carrancas, em Castro Daire, a minha sensibilidade artística quedou-se na ESCULTURA posta no Largo de S. Pedro, junto ao velho HOSPITAL DA MISERICÓRDIA, com a legenda “CENTRO HISTÓRICO O CASTELO”.
E do meu tempo e conceção de um colega meu no Externato Marques Agostinho, em Lourenço Marques, é o POSTAL de “FESTAS FELIZES” do NATAL DE 1974, tal qual vemos, aqui ao lado. Arquiteto de profissão, faleceu em Aveiro, poucos meses depois de eu e o meu e seu ex-aluno, ADELINO PINA NUNES (LINO PARDAL) o termos visitado mais à FAMÍLIA, em 2022, como ficou registado na foto do encontro, aqui ao lado. Na primeira mesa, à esquerda, o arquiteto e a digníssima esposa. No lado direito eu e o nosso ex-aluno, ADELINO PINA NUNES, o grande responsável pelo encontro que, ao volante do seu BMW, fez questão de reunir os dois professores que teve na costa oriental de África. Testemunho de espeito, consideração e amizades que vêm de longe.
É desse, então, jovem arquiteto, esta peça de arte alusiva à QUADRA NATALÍCIA, com o título “FRATERNIDADE”, posta aqui ao lado direito deste texto. Estávamos em dezembro de 1974. Ali, e naquele tempo, mais não era preciso para, num conjunto de tábuas recortadas e furadas, aparecerem irmanadas, sem distinção de ideario político, de raça, de cor e religião, uma floresta natural e uma floresta humana. Discute-se hoje por acá e por todo o mundo o RACISMO. Será preciso sublinhar a ideia luminosa que, nesse contexto histórico de DESCOLONIZAÇÃO, ali em Moçambique, brilhou na jovem cabeça do arquiteto meu colega docente? Claro que ele ainda viu, em vida sua, as primeiras desavenças políticas entre os naturais daquele território, mas faleceu sem ver os «distúrbios» que ocorreram nas ruas, avenidas e praças de Moçambique, depois das últimas eleições. Que dirão eles, os DESAVINDOS, naturais da terra onde deixei parte da minha juventude, desta escultura com o título FRATERNIDADE?
Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.