ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS 3013
Dá licença senhor Doutor. Entre, o sofá livre está. O que o traz por cá, não o esperava tão cedo. Nem eu, mas de há uns dias para cá ando borrado de medo. A minha caixa de correio está atafulhada de pedidos, muitos pedidos, de conhecidos e desconhecidos, todos a pedirem entrada no meu rol de amigos. Eu, que nunca fui de indecisões, sem saber fico, se digo sim, se digo não à revoada. A uns, analisados os perfis (será real o que neles se diz ou somente virtual) dou entrada com mensagem de boas vindas, "já que o deseja e pede, a casa é sua, bom proveito". Alguns agradecem, gentilmente, parece que são mesmo gente, outros surdos, quedos e calados devem ser máquinas automáticas, computadores avariados, sem memória para respostas prontas de marca humana, de amizade. Outros ficam em lista de espera, à espera que eles preencham o contorno vazio da figura humana disponível, pois é minha opção e gosto (com rara excepção) dar somente entrada a gente com nome e rosto.
Excepção para aqueles que conheço, cuja profissão lhes impõe recatar a cara, e então, coisa rara, em vez dela, aceito que ponham um cão, uma flor ou um leão. Ao meu jeito, sem abdicar do princípio, esses pormenores respeito e se me pedem para entrar, e vierem por bem, bom proveito. Mas que entrem a descoberto, não gosto de encapuzados, não gosto do chico-esperto, que se faz amigo e, volta e meia, se põe a bisbilhotar a casa alheia. Mas esse tem os dias contados. E mais uma regra, à maneira medieval, sendo eu o hospitaleiro, nesta realidade virtual, não permito ofensa, nem ataque aos que no meu mosteiro, por isto ou aquilo, pedem entrada, pedem asilo. Pois, isto dito, já dizia o meu pai que o "respeitinho é muito bonito". De resto não queria chegar à atitude radical que já tomei uma vez, como também fez recentemente, por motivo diferente, um amigo meu ao bloquear a entrada de um o"amigo" seu que, montado num cavalo sem peias, entrou a espadeirar a torto e direito, esquecido do jeito que é ser decente com toda a gente, em todo o lado, mesmo que dessincronizado no plano do pensamento e das ideias.
Então, não pára? Já vi que hoje vem com a corda toda, traz as pilhas carregadas. É isso, é. Foi das eleições. Se quiser levanto-me, fico de pé, mas embora é que não vou ainda. Não disse tudo e a coisa tá linda, tá. Não são só os pedidos de amigos, sinto e vejo que estou a ser seguido. Leio isso no visor "seguido por..." e vem o número de seguidores. Fico pasmado. Seguidores ou perseguidores? De quando em vez, não tem hora marcada, nem dia, uma mensagem fugidia a dizer-me "está a ser seguido por..." e vem o nome fictício ou real, do fantasma que me segue. Sempre assim foi, desde o começo, mas não esta avalanche, assim de repente, e se bem digo e meço o tempo, parece-me que tudo começou com o vídeo e a fotografia do avião que nesta eleição dos autárquicos órgãos, (disse eleição, ou erecção?) - disse bem continue - coloquei no Facebook e não bastando isso, vejo e ouço o papalvo look, look, look, a apontar para o ar a lembrar-me a popular expressão "ó patego olha o balão", só que desta vez não foi balão, foi um avião com uma cauda de dragão a apelar o voto. Foi assim este ano, eu o anoto, este ano de eleições, ano de 2013, e toda a gente que se preze e me conhece, como home de chamar as coisas pelo nome, olhando para cima, vê o avião (plural aviões) e mirando-me de cima a baixo, encontra a rima que só não escrevo por relaxo.
Avião, aviões, avião, aviões, eleição, eleições, mas parece-me exagerado crucificarem o Aveleira, por isso. Mais certo seria ele mudar de companhia, de conselheiros e de conselheira, aquela que, a seu jeito, adornada dos predicados da humildade e da sabedoria, tudo sabia, só não conhecia o sujeito com quem se metia. E este nem sequer a mandou para a outra banda, expressão lampeira que, anda e desanda, dia a dia, a semana inteira, na boca do povo. De resto, nem foi caso novo isto das avionetas traçarem os ares de Castro Daire, sendo errado atribuir ao avião (plural aviões) o desaire, a perda das eleições pelo PSD. Basta ver que, em 2011, por estes lados, na Feira de Ouvida, uma avioneta distribuiu rebuçados em voos rasantes e toda a gente, em corrida, ia apanhá-los, num instante. Feira da Ouvida, freguesia de Monteiras, onde, o Américo, do PSD, já se vê, usando as mesmas voadoras maneiras, ganhou por larga margem de votos, daí poder dizer-se, de bom siso, por estes sítios ignotos, que vitórias e derrotas nas eleições, não se devem a aviões. Nisto, como em tudo, andará bem avisado aquele que ouça o povo: "vale mais só, do que mal acompanhado".
Então não pára, não se cala? olhe o tempo. Sim, senhor doutor, é o momento. E o remédio? Não leva receita. O farmacêutico já sabe. Veja se é genérico ou de marca. Andam para aí uns boatos a dizerem que eles vendem os mais caros pelos mais baratos. Veja o preço e apareça. Ai, apareço, apareço.
Abílio/2013