Ai amigo
Tenho andado perdido
Na poesia medieval,
Nas cantigas de amigo
De escárnio e maldizer.
E insisto em escrever
Que foi a religião
Que me transportou
P'ra tempo tão remoto,
Amigo.
Não me cai no goto
Dizer-te, mas então não é
Que tendo sido eu professor
Nas escolas,
A meter história
Antiga, moderna, medieval
Clero, nobreza e povo
Nas sacolas
Dos alunos, anos seguidos
A distinguir ciência e fé,
Delas, das escolas,
Ó bendita glória,
Fazem agora
Igrejas sem sino, nem sacristia
E em nome da autonomia
Sem tino, ali rezam missas
Sem senões, nem chiças,
Como se isso fosse normal?
Ao que vejo
P'ra ter sucesso na carreira
Bem contra o meu desejo
Digo em linguagem lisa
A docência atualmente
Não precisa
De professores com mérito científico
Mas catequese somente,
Amigo.
Está à vista!
Basta o "amen" salvífico
Pois sucesso garantido
Tem todo o senhor sacrista
E de tal maneira
Vinga esse entendimento
Que vai grossa a lista
P'ra diretores de agrupamento!
Vês agora, amigo,
A razão
Por que digo
Que foi a religião
Que me levou ao mundo antigo,
À poesia medieval,
A esse tempo arcaico
Afonsino, dionisíaco, vicentino?
Pois é!
Tal vai o ensino
Neste nosso estado laico
Tal vai a educação
Em Portugal
Todo cheio de fé
Ai deus e u é!
Abílio/março/2016