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domingo, 07 fevereiro 2016 10:07

ALENTEJO

Escrito por 

 

Misterioso é o cérebro humano. Quando menos esperamos, passado tanto ano, num só momento, o pensamento conduz-nos de repente a caminhos andados, distantes esquecidos e, sem pedirmos, lembrados.

 

Seara-RedDyane

Pois assim seja! Assim a onteceu hoje, como um relâmpago no escuro (como explicas isso Damásio, que estás da neurociência seguro? Tu, António, que tudo sabes sobre cada neurónio?)) de retorno a Castro Verde, regresso de Beja, onde faço o estágio de professor, paro a Dyane, penetro seara dentro, olho em redor, absorvo o ar abafado de tudo o que mexe e foge. O trigal, em qualquer direcção da herdade, é terra viva, um mar de pão que, de onda em onda, dá a ilusão de fugir dali, querer deixar o chão, mas no chão fica, sem piedade. Acompanha-me a minha mulher, Mafalda, e no doirado da palha vemos e colhemos uma papoila vermelha. E chega-nos à orelha o canto de uma codorniz, dita nas Beiras, "quercolher". Quem havia de dizer? Quantos anos já lá vão! Na memória nada se perde. E, foi assim que, sem pedir, nem pensar, hoje, de regresso a Castro Verde, eu me vi o Alentejo, assim, tão real, como naquele dia que parei a Dyane e me meti no trigal.

 


Abílio/fevereiro/2016

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.