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terça, 03 junho 2014 08:27

ANTES QUE O SOL SE LEVANTE

Escrito por 

ILUMINURAAntes que o sol se levante

Com estrelas, de madrugada

Eles de gadanha empunhada

Segam o feno num rompante.

 

Elas, a Maria e a Violante

De ancinho e forquilha na mão

Juntam em montes no chão

O feno segado, num instante.

 

Antes que o Sol se levante

Saem os gados para a serra

São os costumes da terra

Que vêm de um tempo distante

 

Chapéu de palha na cabeça

O suor lhes escorre na testa

Não é perfume de festa

Inda que festa lhes apeteça.

 

São enfiteutas foreiros

Suam por todos os porosCorgo-Forninho2

A produção esvai-se em foros

A encher dos senhores os celeiros.

 

Trabalhos e mais trabalhos

Como se fossem condenados

É assim por todos os lados

Entre preces, pragas e ralhos.

 

Compadecido o Sol se deita

Para a todos dar descanso

Mas no dia seguinte, outro tanto

Pois sempre é a mesma receita

 

E decorreram séculos assim

Sempre a noite atrás do dia

Tema de perfumada poesia

Que só a suor me cheira a mim.

 

Fosse eu um poeta inspirado

Só de papel, caneta e tinta

Ignorasse o peso do arado

Do ancinho e da forquilha

Tanta noite e tanto dia 

Da minha lavra sairia

Obra mais perfumada e distinta.

 

Mas antes que o Sol se alevante

Me fico, não vou mais adiante.

Abílio/2014 (glosando o poema quinhentista "Antes que o Sol se levante" de Francisco Rodrigues Lobo, colocado ontem no mural de Lopo Maria Albuquerque)

Uma palavra puxa outra, um poema puxa glosa e as duas coisas puxam vídeo feito e alojado no Youtube em 2011. é só clicar e ver http://youtu.be/HKc1WoT1oy0 

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.