Diana, era o nome dela
Perdigueira, híbrida raça
E em tantos anos de caça
Nunca tive melhor cadela
Olhem, olhem bem os olhos dela, da Diana, da minha cadela perdigueira, anos a fio companheira de passeios e de caçadas
na serra. Olhem, olhem bem como ela, a minha cadela me olha. Olhos postos em mim, ela espera a minha escolha: vamos passear ou caçar? Ouço a pergunta. E ela, a minha cadela, a esse seu olhar castanho, penetrante, fixo em mim, tal se vê, tal se sente, junta a eloquência da quietude, do silêncio, quase parece gente, nem pestaneja, e assim, aqui, em Fareja, sentada na varanda, é ela a dona, é ela quem manda. Os meus filhos que crescendo a viram crescer, três crianças a bem dizer, dois rapazes uma perdigueira, partilharam, tanta vez, em viagem, no banco de trás do carro, a mesma brincadeira, a verdade que aqui lembro, que aqui narro.
Olhem, olhem bem os olhos dela, pois foi a olhar assim que ela, a minha cadela, sempre se fez entender. E foi a olhar assim que a morrer se despediu de mim. Perdigueira, fomos companheiros no combóio da vida, onde não faltam estações e apeadeiros. Ela desceu no seu apeadeiro eu, sem cadela nem cão, deixei a serra e prossigo viagem até à minha estação.