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segunda, 28 março 2016 13:09

O CARTAXO E A COTOVIA

Escrito por 


Pastorinho, monte acima, monte abaixo, nunca esqueci o passarinho empoleirado nos raminhos da urgueira: era o cartaxo. Equilibrado, a pouca altura do chão, naquela sua maneira, naquela sua postura, naquele seu trinado desconcertado natural «...chriu...chriu...chriu...» o cartaxo diferente era da cotovia.

 

 

Cartaxo - Red-

 

Ela, inesperadamente nascida do chão, voava, voava e subia, subia «...pliu...pliu...pliu...» até desaparecer nas alturas. E ele, o cartaxo, ficava cá em baixo empoleirado e preso no raminho de urgueira. Assim era, E o pastorinho, ainda pequenino, encantado ficava a vê-los livres no seu canto livre e solto. Sozinhos no monte éramos três que, mais do que uma vez, tanta foi a vez, a desfrutarmos o hino da natureza que tanto se mostra como esconde.Agora, velhinho, trôpego das pernas, sem subir à serra, eu me revolto por tê-los perdido de vista, mas nunca varridos da lista desta incómoda memória que, a cada momento, me conta e reconta a minha história de vida. Ela, a cada momento, sem lhe ter pedido, nem dado permissão, traz-me de volta os tempos idos, aqueles tempos mortos, aqueles tempos vivos que, em comunhão, inocentemente, eu vivi com aquela bicheza alada: em menino vi e ouvi a cotovia a subir ao céu,« pliu...pliu...pliu» e vi e ouvi o cartaxo, cá embaixo, agarrado ao chão...«chriu...chriu...chriu.

.Abílio/março/2016

Foto retirada da WEB 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.