E com a simpatia própria de uma SENHORA daquele tempo, a Dona Lina, de quem pessoalmente me não recordo (sem desfazer da simpatia das SENHORAS dos tempos de hoje) postou na foto a seguinte legenda:
«...quem sabe se não será do seu tempo, Abílio Pereira de Carvalho?» ao que eu respondi, de pronto, com o seguinte comentário:
«Pois, cara amiga, vou ver à lupa. Quem sabe se sou um dos "trepadores?". Olhando a foto dos "guarda-fios" pendurados na escada, três coisas podem levar à minha pessoa: andava por essa idade, usava óculos e era e sou canhoto. E vê-se que a mão em ação é a mão esquerda. Mas vista assim, de baixo, só Poirot pode atestá-lo».
Aludindo, assim, ao célebre detetive que não deixava por resolver mistério que fosse chamado a decifrar.
Resolvi retomar assunto já que para mim, sempre curioso, face à fotografia que ora chegou até mim, me interroguei: «sou eu, ou não sou eu?»
E com esta pergunta nos lábios optei por juntar aquela foto de Boroma mais daquela época, tiradas em Lourenço Marques, comigo em ação: uma, empoleirado num poste a telefonar e outra, no solo, rodeado pela minha equipa, de telefone encostado ao ouvido. Feito isto, pus-me a espiolhar as mesmas e levá-las até aos meus amigos com vista a descobrirem o que é que elas têm de comum e, juntos, podermos concluir todos, à maneira de Poirot, se aquele rapaz empoleirado num poste, na Missão de Boroma (a primeira deste texto) sou ou não sou eu.
Ora façam o favor de pôr as vossas «celulazinhas cinzentas» a trabalhar. Atentem em todos os pormenores. Façam como o célebre detetive que desvendava todos os mistérios, descartando umas «evidências» e realçando os pormenores mais sofisticados, aparentemente ausentes do objeto que pesquisava. Só depois, com arte, imaginação, engenho e lógica, concluía e demonstrava a identificação do verdadeiro criminoso.
Examinem, pois, bem todas as fotos que ilustram este texto. Homens e mulheres, que tomam assento nesta página «PICADAS DE TETE» de todas as idades (sem compromisso, claro está), são convocados a «picar» o ponto. Eles, a treinarem a sua pontaria de guerra, atentos ao mais pequeno movimento do capim, a mostrarem que as «celulazinhas cinzentas» (esta expressão é, como sabem do célebre detetive) estão capacitadas para algo mais do que tirar a espoleta de uma granada. E elas (para simplificar deixo as suas profissões de professoras, médicas, enfermeiras, advogadas, etc.) a ver se ainda não se esqueceram de fazer o tricô doméstico, aquelas rendas de fios emaranhados que só verdadeiras artistas faziam. Todos (eles e elas) tendo sempre presente que «emaranhada» era a trama da guerra, «emaranhada» era e é toda e qualquer renda, e «emaranhada» é a trama de quem investiga e quer aprender e saber sempre mais, independentemente da sua idade.
Estão prontos? Então digam: aquele rapaz, pendurado na escada na Missão de Boroma, sou, ou não sou eu?
P.S. Vejam lá a alhada em que nos meteu a Senhora Dona Lina Zagalo Neves ao publicar uma simples fotografia. Mas atenção: se não estiverem dispostos a dar a vossa opinião, se os homens tiverem mais prazer numa boa suecada a beber umas cervejas e as senhoras se sentirem melhor a tomar uma chávena de chá em amena conversata, façam favor de fazer o que mais vos aprouver. E sejam felizes. Eu, por mim, enquanto estive a escrever estas linhas e a lançar-vos este desafio, estive entretido. Não pensei na morte da bezerra, nem me perdi em tempos e espaços distantes envolvido em saudosismos pouco saudáveis.
Mas julgo ter chegado à identificação do jovem empoleirado na escada. Só que não digo. Façam o que eu fiz. Imitem Poirot e chegarão certamente à conclusão a que eu cheguei.
MISSÃO BOROMA (in «PICADAS DE TETE«