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domingo, 21 junho 2015 14:41

MEMÓRIAS DE TETE E DE OUTRAS BANDAS (2)

Escrito por 

E a rematar esta série de apontamentos sobre Tete e feitos a propósito da foto de uma LOCOMÓVEL A VAPOR e da minha deslocação à Missão Jesuíta de Boroma, (Tete, Moçambique, em 1962) na categoria sócio-profissional de guarda-fios dos CTT, para pôr em funcionamento o telefone daquela Missão (telefone de manivela de uma só linha aérea!) a senhora Dona Lina Maria Zagalo Neves, que foi residente naquela cidade de África, além de postar a foto daquele equipamento industrial na página do Facebook «PICADAS DE TETE» sabedora da minha ida àquela Missão Religiosa, quis prendar-me gentilmente com uma fotografia, onde aparecem dois homens empoleirados numa escada, que tanto podem ser dois guarda-fios dos CTT como dois eletricistas. Duas categorias sócio-profissionais que, seguramente, eram responsáveis por darem luz ao mundo: uns, através das comunicações e troca de saberes e notícias à distância. E outros, através da energia elétrica que permitia ler e aprender coisas novas pela noite dentro.

E com a simpatia própria de uma SENHORA daquele tempo, a Dona Lina, de quem pessoalmente me não recordo (sem desfazer da simpatia das SENHORAS dos tempos de hoje) AbílioRed.jpgpostou na foto a seguinte legenda:

«...quem sabe se não será do seu tempo, Abílio Pereira de Carvalho?»  ao que eu respondi, de pronto, com o seguinte comentário:

«Pois, cara amiga, vou ver à lupa. Quem sabe se sou um dos "trepadores?". Olhando a foto dos "guarda-fios" pendurados na escada, três coisas podem levar à minha pessoa: andava por essa idade, usava óculos e era e sou canhoto. E vê-se que a mão em ação é a mão esquerda. Mas vista assim, de baixo, só Poirot pode atestá-lo».

Aludindo, assim,  ao célebre detetive que não deixava por resolver mistério que fosse chamado a decifrar.

Abílio-Poste-1Resolvi retomar assunto já que para mim, sempre curioso, face à fotografia que ora chegou até mim, me interroguei: «sou eu, ou não sou eu?»

E com esta pergunta nos lábios optei por juntar aquela foto de Boroma mais daquela época, tiradas em Lourenço Marques, comigo em ação: uma, empoleirado num poste a telefonar e outra, no solo, rodeado pela minha equipa, de telefone encostado ao ouvido. Feito isto, pus-me a espiolhar as mesmas e levá-las até aos meus amigos com vista a descobrirem o que é que elas têm de comum e, juntos, podermos concluir todos, à maneira de Poirot, se aquele rapaz empoleirado num poste, na Missão de Boroma (a primeira deste texto) sou ou não sou eu.

Ora façam o favor de pôr as vossas «celulazinhas cinzentas» a trabalhar. Atentem em todos os pormenores. Façam como o célebre detetive que desvendava todos os mistérios, descartando umas «evidências» e realçando os pormenores mais sofisticados, aparentemente ausentes do objeto que pesquisava. Só depois, com arte, imaginação, engenho e lógica, concluía e demonstrava a identificação do verdadeiro criminoso. 

Telefone ChãoExaminem, pois, bem todas as fotos que ilustram este texto. Homens e mulheres, que tomam assento nesta página «PICADAS DE TETE» de todas as idades (sem compromisso, claro está), são convocados a «picar» o ponto. Eles, a treinarem a sua pontaria de guerra, atentos ao mais pequeno movimento do capim, a mostrarem que as «celulazinhas cinzentas» (esta expressão é, como sabem do célebre detetive) estão capacitadas para algo mais do que tirar a espoleta de uma granada.  E elas (para simplificar deixo as suas profissões de professoras, médicas, enfermeiras, advogadas, etc.) a ver se ainda não se esqueceram de fazer o tricô doméstico, aquelas rendas de fios emaranhados que só verdadeiras artistas faziam. Todos (eles e elas) tendo sempre presente que «emaranhada» era a trama da guerra, «emaranhada» era e é toda e qualquer renda, e «emaranhada» é a trama de quem investiga e quer aprender e saber sempre mais, independentemente da sua idade.

Estão prontos? Então digam: aquele rapaz, pendurado na escada na Missão de Boroma, sou, ou não sou eu?

P.S. Vejam lá a alhada em que nos meteu a Senhora Dona Lina Zagalo Neves ao publicar uma simples fotografia. Mas atenção: se não estiverem dispostos a dar a vossa opinião, se os homens tiverem mais prazer numa boa suecada a beber umas cervejas e as senhoras se sentirem melhor a tomar uma chávena de chá em amena conversata, façam favor de fazer o que mais vos aprouver. E sejam felizes. Eu, por mim, enquanto estive a escrever estas linhas e a lançar-vos este desafio, estive entretido. Não pensei na morte da bezerra, nem me perdi em tempos e espaços distantes envolvido em saudosismos pouco saudáveis.

Mas julgo ter chegado à identificação do jovem empoleirado na escada. Só que não digo. Façam o que eu fiz. Imitem Poirot e chegarão certamente à conclusão a que eu cheguei.

IMG 0997

                                                                                                        MISSÃO BOROMA (in «PICADAS DE TETE«

 

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.