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segunda, 06 fevereiro 2017 13:22

MÕES - 1940 (2)

Escrito por 

HISTÓRIA VIVA

Como disse no apontamento precedente, vários cidadãos da Freguesia de Mões, apresentaram-se na sala de reunião da Junta, no dia vinte e nove de setembro de 1940, para ali dizerem da sua justiça.

Era seu propósito contestarem a informação que a Junta havia prestado ao Senhor Presidente da Câmara de Castro Daire, Dr. Abel Poças Figueiredo, sobre o baldio da Reboleira, ilibando o antigo Regedor e Presidente da Junta de se ter aproveitado dele, em prejuízo dos mais moradores.

Ora, tendo eu dito que hesitava em descortinar de que lado estava a verdade, pois sabê-lo a tanto não me habilitou a leitura hermenêutica dos documentos, impõe-me a consciência a sua publicação, pois estando eu rodeado de escritores, poetas, investigadores e historiadores (o que é muito bom para o concelho)  pode ser que eles, mais treinados do que eu, ultrapassem o meu insucesso.

Acta-Início-RedQuanto a mim, uma coisa me parece certa: estes cidadãos, fosse em defesa da sua palavra de honra ("avis rara" nos tempos que correm), fosse porque não gostassem dos poderes políticos instituídos (o ano de 1940 foi aquele em que se cantaram loas ao Regime, levantando, em todo o País, os CRUZEIROS alusivos à INDEPENDÊNCIA e RESTAURAÇÃO (1140-1640-1940),  como bem demonstrei em crónica anterior) não vergaram a cerviz e foram fazer ouvir a sua voz no local próprio: na sala se sessões da Junta. Que mais não fosse, só por isso, merecem que os seus nomes não fiquem esquecidos nas folhas de uma ata, tanto mais que, parece-me descortinar nesta atitude conjunta o elo de ligação ao «desaparecimento» da parte superior do CRUZEIRO levantado, nesse ano,  no ALTO DA FORCA, como já demonstrei, mesmo que esse desaparecimento encontre alibi num furacão que passou e ali deixou para sempre o seu rasto, isto é, o CRUZEIRO sem conserto. Estranho, não?

Mas vamos assistir à reunião e ouvir as partes: 

«Compareceu como acusador António Marques de Lemos que interrogado declarou que do primeiro valado para lá era tudo baldio porque desde pequeno ali cortara a lenha. Alfredo de Almeida e Costa, Joaquim de Almeida Braguês e Jacinto Vilar declararam que para fora do referido valado era baldio. Manuel Bernardo declarou que do valado para fora era baldio e até tinha sido  questionado no seu tempo pela Ricarda. António Bento Pereira  declarou que nada desse lugar conhecia. Augusto do Sul Carvalho declarou que a parte junto ao pinhal do alto era baldio e o restante de é do Martins. Joaquim Ferreira Norberto, Aristides Braguês, Francisco Braguês declararam terem cortado, em outros tempos, no alto para o lado da Barroca. 

A Junta desta freguesia como já tinha vistoriado o local referido, no dia vinte e cinco do mês de agosto do Acta-Fim- redzcorrente ano, à exceção do presidente que não compareceu, mas perante mim secretário tinha declarado que já tinha vistoriado o local, onde não encontrara modernidade nas estremas, esta Junta verificou pela demarcação antiga e pinhal (...) à beira das demarcações e muitos pinheiros se encontram para fora do referido valado (que alguns acusantes dizem ser baldio) que devem ter sessenta e setenta anos o que se prova com este facto que o referido local não pode ser baldio porque, se o fosse, não se encontrava pinheiro com tal idade. O valado, a que parte dos acusantes  se referem, prova bem que foi feito para vedação das águas visto que para a parte debaixo era cultivado, onde se inda encontram os restos duma casa. A Junta pelo que verificou protesta contra tais declarações, porque as julga redondamente falsas. O vogal tesoureiro, que é natural de Mões, e sempre cá residiu e que conheceu sempre o local referido, apesar de estar com sessenta e quatro anos de idade, (deve) ser respeitado como ele, António Ferreira Martins e sua família. Pelo vogal secretário foi  proposto que se deve arrumar o assunto pois que é a terceira sessão que se faz referência à Reboleira apesar desta última ser para se fazer a vontade ao presidente desta Junta, porque esta questão já tinha sido enviada ao Presidente da Câmara Municipal, em sessão deliberada no dia um de setembro findo, em que o presidente desta Junta faltou e não justificou a sua falta perante esta Junta. Nada mais havendo a resolver encerrou-se a reunião e lavrou-se a presente ata que todos os vogais assinam depois de lhes ser lida por mim,

Francisco Gomes Ferreira, secretário da mesma Junta que a escrevi e também assino.

Presidente: João Rodrigues Pinto

Tesoureiro: Francisco Vitorino

Secretário: Francisco Gomes Ferreira» (a)

Cá por mim, na saga da VERDADE e da  JUSTIÇA, vistos os autos, lidas as atas e publicados os factos, deixo aos meus ilustres colegas, investigadores, historiadores, poetas e escritores que, ultimamente,  proliferam no concelho de Castro Daire, o cuidado de fazerem  uma leitura hermenêutica mais profícua do que a minha e que alcancem a VERDADEIRA  RAZÃO de tudo isto. Tudo  o que se passou no ano de 1940, ano em que uns tantos cidadãos, naturais da Freguesia de Mões, resolveram CONTRARIAR a voz e a letra do PODER INSTITUÍDO, desvalorizando, até,  a ESCRITURA DE COMPRA que o REGEDOR escolhido em 1926 e  PRESIDENTE DA JUNTA, em 1937,  apresentou como prova de que o TERRENO lhe pertencia. 

(a) NOTA: O acesso que tive às atas da Junta de Freguesia deve-se ao jovem Engenheiro Informático, Filipe Duarte Lemos, natural da terra, que, entretanto, se ausentou para o estrangeiro. Sem o seu interesse pelo Monumento no ALTO DA FORCA (onde me levou na sua viatura) e as consequentes diligências feitas, a meu pedido, para aceder aos livros, estas páginas da HISTÓRIA DE MÕES, não seriam escritas, nem divulgadas.

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.