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sexta, 13 janeiro 2017 14:11

MÕES - NOBREZA, 2

Escrito por 

HISTÓRIA VIVA

Na crónica anterior aludi ao estatuto social e funções desempenhadas por D. Henrique de Azevedo Faro Noronha e Menezes: «moço fidalgo», «fidalgo da Casa Real», «juiz de fora em Mirandela», «Governador Geral em Beja» durante o «Governo Liberal», deixando em aberto e ao raciocínio do leitor que a vida não era fácil até para a «nobreza» do Reino. Basta só ter em atenção as distâncias e os meios de transporte.

 

Numa crónica escrita antes, publicada igualmente neste meu site, sobre o tabelião-escrivão ANTÓNIOJOSÉ LOUREIRO DE ALMEIDA, ligado à FAMÍLIA LEITÃO de Castro Daire, escrevi o seguinte texto suscitado pelas deslocações que ele teve de fazer no desempenho do seu múnus:

Saboneteira-Leitão-1 - Cópia«Face a esta romagem, o leitor parou um bocadinho, recuou aos fins do século XIX,  colocou-se no lugar deste romeiro e sentiu que para ganhar a vida (como tantos outros por esses tempos fora) não teve outro remédio senão abandonar a sua zona de conforto por dever de ofício? Lembrou-se, só por momentos, dos transportes da época e dos meios de comunicação existentes? Viu-se, por ventura, metido na mala-posta puxada a cavalos, com bagagem e tarecos pessoais indispensáveis dentro, a caminho de Lamego e  Régua, estrada de terra batida, lombas e solavancos, sair dela e esticar as pernas nos escassos minutos das mudas dos cavalos e prosseguir viagem, ouvindo as pragas e os palavrões  do cocheiro (...) Se tem dificuldade em deslizar no fio cronológico do tempo, nas estradas e águas da história, não está em condições de interpretar o passado, de meter-se na pele dos nossos avós, de compreender o presente e de atribuir a todos eles, independentemente do estatuto social que tiveram, ofícios que desempenharam, os benefícios e as regalias que usufruíram».

LÁPIDE-REDZ

 

Exagerei, nesta minha descrição? Então vejam o que escreveu M. Teixeira-Gomes, que foi Presidente da República entre 1922-1925, no seu livro «Regressos», em 1928, a propósito de uma deslocação que fez de Leiria à Batalha:

«O cocheiro, ou dono da carrinhola, com quem ajustei o transporte de leiria à Batalha, aproveitou a ocasião para estrear os machinhos manhosos e reguingosos que comprara na véspera, na feira de Alcobaça.

Terrível foi e perigosíssima, a luta em que se envolveram aqueles três animais, o maior de todos, o cocheiro, não poupando bordoada aos outros dois que se pegavam a cada instante ou, na melhor harmonia, se punham a recuar para os aterros da estrada, os quais, afortunadamente, eram poucos e baixos. nos intervalos destas perrarias, soltavam-se em tão desenfreado galope que me joeiravam os ossos dentro da malfadada traquitana».(M-Teixeira-Gomes, in «Regressos», «A Batalha», 1928, p.p. 59)

EIRAS-REDZ

 

Daí o meu «regresso» a Mões e deixar aqui, com maior destaque, a lápide alusiva ao NOBRE FIDALGO que, como eu, pisou o solo de Beja, ele no papel de «Governador Geral» e eu de professor na Escola Preparatória Mário Beirão. E também as ARMAS colocadas na empena sul da CASA DAS EIRAS. A história faz-se com imagens e com palavras.

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.