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segunda, 12 dezembro 2016 14:32

QUARENTA ANOS DE PODER LOCAL (2)

Escrito por 

MEMÓRIAS E DOCUMENTOS

É óbvio que os meus amigos (pouco atreitos às futilidades facebookianas diárias) sabedores e atentos «ao dito» e «não dito», repararam que ao título destas duas crónicas  «QUARENTA ANOS DE PODER LOCAL» falta o apêndice «DEMOCRÁTICO». Não se tratou de um lapso meu. A questão é que, por força dos preceitos constitucionais e leis deles decorrentes, ainda que o «PODER» tenha sido devolvido ao «POVO» através das eleições, «PODERES LOCAIS» houve (e há) que de «DEMOCRÁTICO» têm apenas a forma como foram atingidos. E claro está que não me refiro exclusivamente às «AUTARQUIAS». A «DEMOCRACIA» e a forma de chegar ao PODER alargou-se a muitas outras instituições nacionais. E creio todos hoje saberem quanto «compadrio», «clientelismo», «nepotismo»  e outros «ismos» enxameiam o país inteiro a coberto de eleições,  passados que são QUARENTA ANOS de «DEMOCRACIA REPRESENTATIVA». E ninguém ignora também  o grau de «CIDADANIA» refletido na «abstenção» verificada em cada ato eleitoral, v.g. eleições europeias, legislativas, autárquicas e demais instituições existentes.

5 - 5aDito isto, hoje, como ontem, com um olhar crítico sobre o mundo que me rodeia, sempre empenhado na «educação para a cidadania», no ano letivo de 1976/1977 (vejam há quanto tempo foi isso, senhores! Nessa altura, muitos dos que se sentam hoje nas cadeiras dos poderes locais, andavam a saltitar de Tim... Tim  para Tim...Tim..., ou, quando muito, a ler o «Tio Patinhas» para, em adultos, encontrarem modo de encher o mealheiro), nesse ano, dizia eu, lecionando a disciplina de HISTÓRIA nos cursos diurnos, visando pedagogicamente os objetivos da EDUCAÇÃO, solicitei aos meus jovens alunos o que tinha já solicitado aos alunos adultos sobre o funcionamento da Escola e da sua  «Gestão Democrática», através de um «RELATÓRIO» com a seguinte «introdução»:  

«Naturalmente, nem tudo o que se passa na tua Escola corre ao teu agrado. Vais ter agora a oportunidade de te pronunciares num pequeno relatório sobre como ela devia funcionar de modo agradar-te e também aos teus colegas, sem prejuízo dos seus objetivos fundamentais que são a tua formação e preparação para a vida.6 -6a

Se fizeres uma comparação entre o seu funcionamento deste ano e dos anos passados talvez isso te ajude a opinar melhor sobre o que se deve fazer para que cada sala de aula, os corredores, o átrio, numa palavra, a Escola, seja um lugar de convívio democrático e de estudo que contribua, de facto, para os objetivos citados.

A tua opinião é muito importante, sobretudo se ela refletir dois conceitos fundamentais que são a liberdade e responsabilidade».

 Aqui deixo pequenos excertos das opiniões dadas por alguns desses alunos e alunas (manuscritas e transcritas) sem desprimor para os restantes que faziam parte da TURMA, os quais aqui não incluo por questão deste meu reduzido espaço online. Hoje todos eles são gente adulta e alguns, seguramente, no exercício da sua cidadania, a integrarem os órgãos de instituições locais. Pois que o façam empenhados no BEM  COMUM que, para tanto, foi o empenho educativo deste velho (então, novo) professor.  

 7 - 7aCópiaa) CRISTINA MARIA MARTINS GUERREIRO (3ª ano unificado-diurno)

 «(...)Eu creio que esta escola se está a tornar um centro de viciados pelo tabaco. (...)   Eu acho que as aulas deveriam de funcionar todas como as aulas de História, com o professor Abílio, porque estas aulas são dadas com muita disciplina, liberdade e também com o sentido de responsabilidade» .

b) MARIA DA PIEDADE DOMINGUES (3º ano unificado - diurno):

«(...) uma das coisas que acho mal é o rapazes terem uma casa de banho e andarem quase sempre metidos na casa de banho das raparigas, pois acho que isso não era para eles fazerem, uma vez  que têm uma e no entanto eu todos os dias vejo isso.(...)As aulas (...) a melhor organizada, para mim, claro, é a de História, onde eu acho que há mais liberdade e que ela é respeitada (...)»

c) MARIA DO ROSÁRIO M. AUGUSTO (3º ano unificado - diurno):

8 - Cópia«Na minha opinião acho que a escola este ano já está a funcionar um pouco melhor em relação aos outros anos (...) Há aulas que o seu ambiente é bastante bom, como por exemplo a aula de História, a de Francês e, em princípio, a de Português. As duas primeiras aulas que citei funcionam bem e o ambiente é agradável porque há respeito entre os alunos e os professores.

 d) MANUEL FRANCISCO GUERREIRO BARÃO (3º ano unificado - diurno): 

 «Eu acho que a escola está a funcionar melhor em relação ao ano passado, porque não havia tanto respeito como este ano (...) A aula de História é uma aula onde há respeito entre alunos e professor. Se em todas as aulas corresse assim não tinha nada a dizer, porque quando toca a campainha para a entrada o professor entra em primeiro e quando toca para a saída os alunos saem e depois o professor, e assim não podem roubar nada".

e) MÁRIO CORREIA VAZ  (3º ano unificado - diurno)

«Nas aulas de (...)  tenho a apontar o método de ensinar do professor. Às vezes acontece que ele está falando e a gente diz que não percebe, ele diz para não interrompermos, que depois ele engana-se e já não sabe ou baralha-se e já não sabe o que estava a dizer; depois no fim do período para avaliar os alunos baseou-se só nos pontos, porque não tinha quase nenhuma avaliação a não ser os pontos.

Nas outras aulas já isto assim não se passa, porque os professores imitiram logo um método (...) que está a resultar muito bem, principalmente nas aulas de História, em que um fala e o outro escuta e dando matéria num dia e no outro fazendo chamada a essa mesma matéria, assim dá-nos a possibilidade de nós trazermos sempre a matéria em dia e não ir acumulando a matéria só para quando houver pontos».

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.