Foi aquela figura masculina, toda nua, esculpida num modilhão, lá no alto, ao alcance da vista, mas longe do camartelo e da mão puritana sacrista, bem capazes de a deceparem por maldosa interpretação, ensinados que são a ver nas igrejas anjos alados, assexuados, não vendo nexo na escultura daquele modilhão, uma figura com avantajado sexo, capaz de envergonhar qualquer ser humano, cristão ou não.
Associei essa escultura a outras figuras perdidas na diversidade das siglas, interpretando-as como símbolos da fertilidade.
Numa palestra que ali fiz, satisfazendo os apetites de alguns visitantes estrangeiros e outros portugueses, chamei a atenção para o facto e não faltou quem me olhasse de soslaio. Coisas dessas num templo cristão?
Deixei esse pensamento amplamente desenvolvido no livro e, talvez por isso, é que, como também já demonstrei em crónica anterior, o meu nome e a minha obra não tenha sido incluído na bibliografia daquele artigo publicado na Revista da Faculdade de Letras de Universidade do Porto, em 2013, assinado por três docentes. Logo três.
Acicatado por tal omissão e porque aprendi com Oliveira Marques a não deixar de fora a bibliografia já existente sobre o tema a investigar, regressei ao assunto, voltei às pesquisas com vista a corrigir o meu olhar interpretativo, caso fosse necessário, ciente de que a HISTÓRIA é um constante FAZER e REFAZER de conhecimentos e interpretações, basta para tanto que sejam descobertos novos documentos, novas fontes, feitos novos estudos de modo a poder-se alterar, complementar, inutilizar ou desmentir o que antes, a preceito, fora dado como certo ou verosímil.
E nessa saga disponho hoje de fontes de estudo que não dispunha em 2000/2001. Posso, portanto, face aos mais céticos. afirmar que estava correto quando, assertivamente, associei essa escultura a algumas SIGLAS, vendo nelas o SÍMBOLO DA FERTILIDADE. Reponho o texto para evitar confusões e para que não seja atribuído a terceiros o pensamento e as palavras de que sou autor:
«A figura humana esculpida num modilhão bem pode exibir o que algumas siglas escondem, sendo elas próprias o «símbolo da fertilidade» reduzido à forma mais simples».
E acrescentava, seguro da substância do meu pensamento:
«O que é da natureza humana, da natureza humana se há de manter eternamente. E ainda que, por força das filosofias ou doutrinas adversas e anti-natura, entre em profunda hibernação, tarde ou cedo emerge pujante de força e de verdade». (CARVALHO, 2001: 173)Palavras premonitórias estas. Depois disso viria o programa «ROTA DO ROMÂMICO» com visitas, palestras e o diabo a sete, tudo muito bem explicadinho, menos o EROTISMO que impregna modilhões, capiteis e paredes. Se esse pudesse eclipsar-se da face da terra, tanto melhor. Evitaria que muitos crentes se benzessem e proclamassem "credos" e "abrenúncios".
Entendi, pois, desenvolver a questão e, mesmo aposentado, sair dos livros e, com vista a arejar certas mentes, penetrar GOOGLE dentro, em busca da ARTE ROMÂNICA, de modo a completar a bibliografia especializada que preenche as estantes da minha biblioteca.
Não tardei a deparar com o blog «EL CORREO DE LAS MATAS» (2009), remetendo para «EL ROMANICO EROTICO. LUJURIA EN LOS TEMPLOS CRISTIANOS», seguido de texto esclarecedor que transcrevo, respeitando a língua e a grafia:
«Como ya conocerán nuestros seguidores, el norte de Burgos y Palencia y el sur de Cantabria es una de las zonas donde más iglesias rupestres de nuestro país podemos encontrar. Iglesias que hasta el momento hemos documentado en numerosos artículos y vídeos, aunque todavía no demos por terminado el trabajo.
Junto a las fantásticas iglesias rupestres, nuestra zona es también muy rica en arte románico, quizás también es esta, una de las zonas donde su cantidad y calidad es más mayor que en otros puntos de España».
Deste blog é a imagem que aqui deixo ao lado e mais adiante comento.
Mas não me fiquei por essa página. Navegado neste mar pacífico do conhecimento e do querer saber, sem reservas, nem tabús, não tardei a entrar noutro blog denominado «VIAGENS E PENSAMENTOS» que inclui uma crónica de Angel Almazón, com data de 22 de Setembro de 2013 (fresquinha, portanto), devidamente ilustrada, que para aqui, igualmente, copio com a devida vénia:
«El 22 de septiembre pasado estuve ante la Colegiata de San Pedro de la localidad cántabra de Cervatos en el Alto Campoo. Había visto sus canecillos eróticos muchas veces en libros y en internet, había leído sobre ellos, pero nunca había estado allí, frente a ellos. mirándolos y fotografiándolos. Tal es la profusión y exhibicionismo sexual de la iconología pétrea de esta iglesia que se la ha considerado como el principal templo hispánico en “erotismo románico”, tema sobre el que os recomiendo leer el libro de Jesús Herrero Marcos La lujuria en la iconografía románica.».
Li tudo com avidez e regalei os olhos colocados naquelas esculturas ornamentais das igrejas românicas. Elas confirmam, de forma explícita, a interpretação por mim expendida em 2001, a contragosto dos sacerdotes puritanos, académicos e eclesiásticos que, lá pelo Porto, lá por Lisboa ou lá Coimbra, nas nossas universidades, pontificam no sinédrio dos estudos relacionados com o templo da Ermida do Paiva.
Reparem nas figuras. Nos dois modilhões, em («EL CORREO DE LAS MATAS» ) vemos, lado a lado, uma figura masculina e outra feminina, ambas a levantarem as suas vestes e a exibirem os respetivos sexos. Sendo que, numa delas, na masculina, é bem visível a ação do camartelo. Passou por ali mão beata e sacrílega, sabe-se lá se em obediência ao rigorismo de S. Bernardo ou em obediência a ensinamento catequético posterior, entendeu que estava ali a mais aquele «tesão» e...pum, deita abaixo.
Nas restantes esculturas (VIAGENS E PENSAMENTOS) vemos num dos modilhões um casal em pleno ato sexual e no outro uma criança a nascer. Ao fim e ao cabo a materialização do pensamento que expendi em 2001: :o MILAGRE DA VIDA consumava-se assim, lavrado ali, em pedra, no alto das cornijas das igrejas românicas, lá bem nas alturas, onde todos os crentes pudessem ver e ler o preceito bíblico: "criai-vos e multiplicai-vos". Ali, naquelas esculturas, colocadas, a bem dizer, a dois palmos uma da outra, assim tão perto, carregadas de significado, vemos decorrer o tempo de nove meses. E siglas em forma de 9 é o que não falta nas paredes da Ermida do Paiva.
Bem podem pois os estudiosos deste templo excluir da bibliografia conexa o meu livro «Mosteiro da Ermida» numa atitude clara de apagar a minha existência intelectual. Noutros tempos, havia o INDEX e a fogueira, hoje, mais sofisticadamente procuram-se outros métodos. Só que, como se vê, nos tempos que correm é difícil, senão impossível, cortar o fio ao pensamento e excomungar quem excomungado se autoconsidera, pois não sacrifica a verdade verdade histórica a qualquer crença ou ideologia.