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terça, 24 agosto 2021 19:24

ORADOR SEM NOME

Escrito por 

A ARTE

Não. Pespegado ali, assim mesmo, na parede frontal da Sacristia da Igreja Matriz de Castro Daire, em postura claramente oratória, não, não é Santo António a «pregar aos peixes». Quem se lembra de tal peça oratória escrita e da metáfora nela desenvolvida, pelo Padre António Vieira? Eu a lembro, aqui e agora, recorrendo à forma mais simples, disponível a toda a gente. O GOOGLE:

1-PEDRO-SACRISTIA«O Sermão de Santo António aos Peixes constitui um documento da surpreendente imaginação, habilidade oratória e poder satírico do Padre António Vieira (…) Todo o Sermão é, portanto, uma alegoria, porque os peixes são uma metáfora dos homens».

Assim mesmo, ó gente culta de Castro Daire, aquela que, de esquina em esquina, alardeia diariamente o ESCÂNDALO de se ter pespegado e pendurado «um preto» na Igreja Matriz, figura mais parecida com um jogador de futebol do que com um santo. Pode lá ser? E com saia? E tão novinho? E não mão DUAS chavinhas que mal se veem?

2-PEDRO ORADORPois é. Essa figura não tem nome, nem precisa dele. É uma obra escultórica, semelhantemente a todas as obras escultóricas que enchem as nossas praças e jardins representando PESSOAS cujo retrato autêntico se ignora. Esta é fruto da imaginação meu colega professor José Luís Loureiro, natural de Castro Daire, do qual o concelho se devia orgulhar e honrar. mas, «SANTOS DA CASA...»

Já sobre ela deixei um APONTAMENTO no meu site, mas os ditos «chistosos» e «maldizentes» que me chegaram ao ouvido, merecem que eu escreva mais estas linhas, aqui, neste espaço aberto, para dizer que um «criativo», um «artista» deixa de o ser quando se limita a seguir os cânones tradicionais que lhe moldaram o pensamento, nomeadamente aqueles que se ligam à iconografia religiosa e santeira.

O orago da Igreja Matriz de Castro Daire é S. Pedro. A sua imagem clássica representa um venerável ancião, barbas de profeta e chaves na mão. E assim sendo como pespegar ali um jovem com duas «chavinhas» que mal se veem? E pendurado? Se ainda estivesse num pedestal, no chão, mas ali pespegado. No ar? Abrenúncio!


PERDRO-CHAVES MÃOPois é. Gostavam estes nossos críticos de esquina e de café, que eu classifico de «meia tijela», que o ARTISTA se cingisse ao «parecido, dito e feito». E ele não fez isso. E não fazendo, deixou para a posteridade uma AUTÊNCIA OBRA DE ARTE, fundida em bronze, sem desrespeitar, sequer, os preceitos bíblicos. Não diz o livro das SAGRADAS LETRAS que «é mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus”? donde se presume serem as portas do céu do tamanho do «cu de uma agulha» e, portanto desnecessárias serem CHAVES GRANDES para abri-las ou fechá-las.


PEDRO-PÉSNesta obra, tal com no «sermão do Padre António Vieira aos peixes», pontificou a IMAGINAÇÃO e o ESPÍRITO CRIADOR dos artistas. E se houve imaginação para pôr os «peixes a ouvir», para   pôrem Jesus e Pedro a andar sobre as águas do MAR DA GALILEIRA, como diz a Bíblia, por que não pôrem Pedro a levitar nos ares de Castro Daire, como fez José Luiz Loureiro e como digo eu? E se se acredita que os Anjos voam, por que não acredirar que os Santos também o podem fazer? 

 Nesta sua obra de escultura, procedendo assim, o nosso conterrâneo deu um golpe entrópico nos arquétipos mentais que moldaram o pensamento desses críticos de «meia tijela», críticos de esquia e de café que se acomodaram a ver o mundo, como lhes foi ensinado, desde pequeninos. Para eles, tudo o que aparece diferente, peça que não encaixe no seu puzzle mental, está errado, é feio, não é santo, é preto (CHEGA PARA LÁ!), é jogador de futebol. Coitados, falam, falam, mas não deixam PEGADA ARTÍSTICA E CRIADORA por onde quer que passem. Apenas passam! Nem , nem PEGADA. Só patada! Mais dócil: patacoada!

 

 NOTA: publicado no mural do Facebook hoje mesmo, além dos «likes» que assinalaram o «gosto» de alguns seguidores do que vou escrevendo e publicando, recebeu o seguinte COMENTÁRIO escrito de:

Paulo Sérgio Ferreira:

«Outro Sérgio que não eu, porque há mais Marias na terra, um tal de António, filósofo e pedagogo, terá dito que "... a má língua faz parte do nosso peculiar subjectivismo", não há nada a fazer Doutor Abílio Pereira de Carvalho, o autor da obra, que conheço bem e de quem sou amigo desde que ele nasceu, deveria ter colocado um letreiro, junto do menino, do preto ou do jogador de futebol avisando que aceita conselhos de quem já fez melhor ou pelo menos igual.
Essa corja tem é inveja.
Grande abraço a todos e parabéns ao Zé, orgulhem-se os castrense de termos alguém tão dotado».

COMENTÁRIO a que eu respondi, de imediato, assim:

 Abílio Pereira de Carvalho

«Bem. Afinal ainda há em CASTRO DAIRE (mesmo que a residir fora, por imperativo profissional) que me ACOMPANHE na VISITA GUIADA. Um grande abraço SÉRGIO e folgo pelo MÉRITO que atribuis ao ARTISTA. Ele, com efeito, bem merece, mas SANTOS DA CASA..»

E acrescento agoa, AQUI, NESTE MEU SITE: O Paulo Sérgio é um conterrâneo que julgo ter já terminado o CURSO DE DIREITO. Se não terminou, fá-lo-á, garantidamente. E dá-me um certo conforto estar acompanhado por quem tem poder de argumentação, sobretudo quando ela é JUSTA. E não se espera outra coisa de um HOMEM DE LEIS.

 

 







 



 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.