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domingo, 24 janeiro 2021 15:07

SETEMBRISMO

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SETEMBRISMO

Tempos conturbados esses, nos meados do século XIX, em que se confrontavam ideias políticas novas com ideias velhas ou ideias mais radicais do que outras e, de permeio, os bandidos e salteadores, descontentes e desertores a darem o seu contributo à desordem pública e ao medo. Todas as revoluções no mundo põem frente a frente ideais diferentes e, na oportunidade, os oportunistas, sem ideias nem valores, ou se tornam seguidistas das partes em confronto, ou então, aproveitando a confusão de indecisão e medos, bandidos e desertores, fugidos, perseguidos e presos.

Foi o caso da Revolução Liberal de 1820, entre LIBERAIS E ABSOLUTISTAS e as que lhe são subsequentes, entre liberais, uns mais do que outros. Refiro-me, aqui, ao SETEMBRISMO, que bem me faz lembrar a «guerra» ideológica e verbal travada nesta campanha eleitoral para o cargo de Presidente da República, onde não faltou sequer a defesa da «pena de morte». E eu, como todos os Portugueses em «CONFINAMENTO», dou por mim a meter o nariz no ficheiro há muito esquecido, tempo em que a pena de morte fazia parte da nossa JUSTIÇA, com veremsos mais adiante. 

 

PRIMEIRA PARTE

7-D.Henrique-Mões - CópiaEnquanto professor na Escola Preparatória Mário Beirão, em Beja, impelido pelo gosto da investigação e saber, dou por mim metido no Arquivo Distrital daquela cidade a espiolhar manuscritos. Era o ano letivo de 1981/82. E, tal como o pescador em ação tudo o que vem à rede é peixe, eu “fichei” o conteúdo de alguma correspondência existente naquele Arquivo, sem supor, eu beirão, como vim a investigar mais tarde e em terras de Castro Daire, que ali estivera outro beirão a desempenhar as funções de Governador-Geral do Distrito, ao serviço do LIBERALISMO. Ele a «fazer história», e eu a documentar-me para «escrevê-la».

epitáfio Era D. Henrique de Azevedo Faro Noronha e Menezes, cuja parcela de vida ficou registada num epitáfio lavrado em granito, junto à sua campa rasa, no antigo cemitério de Mões, junto á Igreja, cujo estado de abandono mostra o respeito que se tem pelos nossos antepassados, enquanto protagonistas da FAMÍLIA e da HISTÓRIA. Ele foi «moço fidalgo», «fidalgo da Casa Real», «juiz de fora em Mirandela», «Governador-geral em Beja» durante o «Governo Liberal» E algo mais mais que eu sei dele, já publiquei no meu site trilhos-serranos e o resto está guardado no meu livro inédito com o título «Castro Daire, Clero, Nobreza e Povo» a descansar no limbo do «disco rígido» do meu PC.

Pois. Mas voltando a esse tempo, digo que o revolucionário REMEXIDO, de seu nome José Joaquim de Sousa Reis, afeto ao MIGUELISMO, dando o corpo ao manifesto em terras algarvias, já tinha sido fuzilado pelos liberais em 1838, só que os seus sequazes miguelistas e outros liberais contra  liberais, continuavam ativos em Portugal inteiro.

Vejamos o que nos dizem os documentos, cujo conteúdo resumi, ali, no Arquivo Distrital de Beja:

 

 

ANO DE 1840

Gov. Civil de Beja

3ª R. nª 254

Circ. , 16-1-1840

5-prisões[Pede-se a prisão de Pedro Batalha e Henrique José, ambos desertores do Batalhão de Engenharia nº 25 do destacamento de Vila Nova de Mil Fontes e Joaquim António que foi soldado da Guarda Municipal de Lisboa e desertor do Batalhão de Infantaria nº 17. Os primeiros desertaram respetivamente em 25 e 28 de Dezembro e o último em 11 de Novembro.

A circular ordena ainda a prisão de  «assassinos», dando todas as suas características: nome, naturalidade, altura, crime].

Gov. Civil de Beja

3ª R. nª 213

B.16-3-1840

Amnistia

[Remete um exemplar]o «decreto de 24 de Fevereiro último, pelo qual Sua Majestade houve por bem conceder amnistias às partidas rebeldes do Algarve e Beira Alta e aos desertores no mesmo especificados» devendo ser dada publicidade «a este ato de clemência Real» de modo que «de combinação com as respetivas autoridades militares (…) os amnistiados que se apresentem sejam bem recebidos e não sofram ultrajes que os obriguem a fugir de novo ou afastem outros de se aproveitarem do indulto pelo receio de serem maltratados».

Idem, 1ª Rep. Nº 309

Circ. De 15-9-1840:

1-TABACO-1 - Cópia 2Sendo a plantação de cultura da denominada erva-santa proibidas pelo Alvará de 21 de Junho de 1703 cuja observância foi estipulada na condição 40ª do Contrato de Tabacos e autorizada a destruição e arrancamento delas quando existam em contravenção do dito Alvará, cumpre-me em observância à Portª do Ministério do reino de 10 do corrente ordenar a VSª que os oficiais do contrato dos Tabacos criados por Lei e munidos dos competentes títulos, em regra, podem, como oficiais públicos, praticar por si a destruição e arrancamento da referida erva-santa e também, cumulativamente com as Autoridades Administrativas a quem eles recorrem para o dito fim sem que por isso fiquem estas dispensadas de empregar a necessária fiscalização que lhe é também incumbida pelo citado Alvará, Portaria do  Ministério do Reino de 29 de Julho último e da Circular nº 305 pela 1ª Repartição desta Administração Geral de 7 do último Agosto, devendo em todo o caso prestar-se aos sobreditos oficiais os auxílios e cooperação que solicitarem para o bom desempenho daquelas diligências formando-se os autos competentes que se remeterão ao Poder Judicial para os  usos necessários ao que tudo VSª dará inteiro cumprimento e fará executar por aqueles seus subalternos a quem assim competir”.

 

Idem, cir. 29-9-1840:

Ordena a prisão do desertor do Batalhão nº 30 Manuel David e do almocreve Maurício de Carvalho.

Idem, 12-10-1840:

Ordena a «descoberta e prisão dos desertores Joaquim da Costa, do B. de Infantaria nº 25 e Manuel Arranca, natural de Castro Verde do Reg. de Cavalaria nº 4 e Joaquim José Luís (…) o qual no dia 27 de Setembro se escapou da vista do carcereiro e de outro preso com algemado andava pedindo esmola».

Idem, 31-10-1840:

«Achando-se aumentadas as forças de Cavalaria e Infantaria empregadas neste distrito na ativa perseguição e total extermínio dos bandidos que infestam perpetrando seus costumados latrocínios e depredações e sendo certo que saldados serão os esforços das mencionadas forças se forem eficazmente coadjuvadas pelas autoridades administrativas e por todos os cidadãos dos sítios que aqueles malvados percorrem e dos esconderijos e paradeiros por eles mais frequentados (…) ordeno que (…) não perca meio algum de saber notícias da posição dos bandidos e dos seus planos de atrocidade e de os transmitir imediatamente aos comandante das Forças e da autoridade militar mais próxima (…)”

Idem, B.9-11-1840:

[constando que] “nas estradas que vão de Alcácer e Comporta para a serra giram 19 bandidos com o fim de esperar certa porção de dinheiro que de Lisboa lhes há de ser remetido (…) recomendo a V.Sª que tenha a maior vigilância neste objeto e tenha toda a possível prontidão em participar às forças que perseguem bandidos (…) para mais fácil a preensão deles e de todos os que pretenderem auxiliar».

I6-prisões2dem, 27-11-1840:

Ordena a descoberta e prisão de José Francisco e João Pedro ambos desertores do Corpo de Segurança deste Distrito.

Idem, Gov. Civil de Beja

3ª R. nª 213

Circular

B. 9-12-1840

Ordena a captura do desertor Joaquim paixão, natural de Alfundão que no dia 19 de Novembro último «desertou da 5ª Companhia do B. de Infantaria nº 25 onde tinha praça de soldado».

Idem, circ. B.31-12-1840:

Ordena a prisão do desertor Manuel Gaspar, natural de Águeda, distrito de Aveiro que «no dia  30 do cadente (sic) Dezembro desertou do Batalhão nº 15 de Infantaria» e remetê-lo «seguro» ao coronel daquele corpo.

ANO DE 1841

Idem, 4-1-1841:

Exército-recrutamento

«foram  reprovados pela Junta de Saúde os seguintes recrutas desse concelho (…) João Batista (…) Inácio Guerreiro (…) João dos Santos (…) Jacinto Pereira, todos na virtude de  moléstias que isentaram do serviço militar, o que participo a V.Sª para sua inteligência e mais efeitos

Deus Guarde

Idem, circular de 26-7-1841:

Ordena a captura de Manuel José Estudante, natural de Alvalade, trabalhador,  que desertou do B. nº 20 em 1 do corrente “e também pessoa ou pessoas que sejam portadoras de objetos roubados nas Igrejas de S. Nicolau, S. da Fecia e da cidadela entre os quais se constam cálices com  patenas e colheres de prata dourada, resplendores de prata, 1 fio de contas de ouro, medalhas de prata, chaves de prata de sacrário, etc»

Idem, Circular de 29 de maio de 1841

Ordena a “captura do desertor António Alves, soldado lanceiro, desertado do corpo acantonado nesta cidade» em 28 do corrente”.

Idem, 5-6-1841

[Ordena a captura do desertor José Luís, natural de Albernoa, granadeiro nº 62, desertado no dia 10 do último mês do B. nº 25 de Infantaria]

Idem, 9-6-1841

[Captura de Manuel  Martins, soldado nº 38 da 2ª Companhia do B. nº 4 de Caçadores no dia 8 do corrente mês estacionado em Valença. Era natural de Almoleias, distrito de Beja]

Idem, circular de 10 de junho de 1841:

Ordena “a captura de Joaquim Manuel António das Ondas, natural de Beja e António Coelho, natural de Pias, ambos desertores do B. nº 20 de Infantaria e marcelino Alves, idem, mais Manuel António Alves com farda do Batalhão nº 19 donde é desertor. E ainda mais quatro pessoas suspeitas de terem furtado objetos na Igreja de Sebastião de Fornelos, concelho de Santa Marta, distrito de V. Real. Descreve os objetos roubados”

Idem, Circular de 25 de Agosto de 1841:

[Entre outras prisões] “ordena a captura de António Roiz, 36 anos, natural de Coura, Capitania-Mor de Lafões, desertor da 6ª companhia do Bat. de Caçadores nº 3 e António Maria, 19 anos, natural de Odemira, desertor da 4ª Companhia do Batalhão de Caçadores nº 26

Idem. Circular de 3 de Agosto do  1841:

Ordena a “Captura de Manuel da Horta, natural da Covilhã, foi soldado de Caçadores, nº 9, esteve degredado fora do Reino e desertor de três corpos. Fugiu da praça de Elvas, onde cumpria a sentença de trabalhos públicos (contra quem há suspeita de ter assassinado num pinhal uma rapariga de 16 anos]

Idem, 4-set-1841:

 Ordena  «a captura de António Gomes, 24 anos, natural de Alvito e José  Caeiro, de 18 anos, natural de Moura e José Manuel, 27 anos, natural de Alfundão, e Mateus, natural da freguesia de Louredo, os quatro desertores Infantaria nº 15.

Idem, 16-setembro- 1841:

[Entre outras prisões de crime comum ordena a captura de José Santinho de 16 anos, natural de  Castro (sic), desertor do Batalhão de Infantaria nº 25 e Thiago José, natural da Freguesia de Carvalheiros, 29 anos, desertor do B. Inf. Nº 8]

Idem, 16-set-1841:

Entre outras prisões de crime comum «ordena a captura de José Santinho de 16 anos, natural do Castro (si) desertor do Batalhão de Infantaria nº 25 e Tiago José, natural da Freguesia de Carvalheiros, 29 anos desertor do Batalhão de Infantaria nº 8».

ANO DE 1844

Gov. Civil de Beja

3ª R. nª ?

Circular Confidencial

B. 2 de abril de 1844

[O  Gov. Civil dá conhecimento ao Administrador de Messejana de que pelo ofício de «hontem» do Ad. De Mértola c/referencia à participação de Tavira]  «que o ex-major Cabral com quatro oficiais do extinto Batalhão 6 de Infantaria sequazes de Miguel Augusto que se achavam refugiados em Hespanha e 40 paisanos de pé se manifestara em Alte, a três léguas de Loulé  e se dirigia a S. Bartolomeu de Messines com o intento de se  fortificarem em Silves ou outro ponto para atraírem ali alguns incautospelo que deve diligenciar e os perseguir por todos os meios ao seu alcance, prestando às autoridades dos concelhos limítrofes toda a coadjuvação de que para aquele importantíssimo fim carecem, dando conta de tudo quanto ocorrer».

Gov. Civil de Beja

3ª R. nª 430

Beja, 19 de Abril de 1844

«O desertor do Regimento 15 de Infantaria Manoel Lourenço foi entregue no mesmo dia 817 de Abril de 1844) no comando da Sub. Revisão Militar, para ter o conveniente destino» [para o Administrador do Concelho de Messejana]

Idem, em circular de 22 de abril de 1844.

[Nesta circular dá-se conhecimento ao Administrador de Messejana do estipulado no] “Decreto de 17 do corrente mês pelo qual Sua Majestade a Rainha houve por bem regular o modo porque se há-de proceder contra os fautores da revolta e os que por qualquer modo para ela cooperaram”.

 Regimento de Infantaria 15

Nº 153

Quartel em Lagos 25 de abril de 1844

3-TABACO-2 - Cópia[Comandante do Regimento acusa receção do ofício nº 669 de 14 do corrente do Adm. do Concelho de Messejana e informa que] o «desertor Manoel Lourenço (…) não pertence a este Corpo nem para ele foi destinado pela dissolução  do extinto Batalhão 15» [p/ Messejana]

 Idem, em 26 de Abril de 1844,

 [p/ Governador Civil acusa  a receção] «do ofício nº 631 de 23 do corrente» que fala de um estrangeiro e outro português» [que passaram] “nos limites do seu concelho» e suspeitos de «serem agentes dos revoltosos» [Esclarece que não transitam legalmente que se  apresentaram em Beja] «no dia 21 e pernoitaram em 22  na Cuba e a 23 em Évora, todavia é louvável o zelo de sua pesquisa e participação devendo não afrouxar em assim as continuar de futuro» [para o Administrador de Messejana]

 

 

SEGUNDA PARTE

Tempos conturbados esses em todo o país, como mostra a correspondência trocada entre as autoridades militares e civis. Mal imaginava eu que, deixando o Alentejo, e subindo à Beira Alta, mais propriamente ao meu concelho de origem, de Castro Daire, viria a encontrar (não nos arquivos oficiais, mas nos particulares) as mesmas lutas e assaltos.

Num deles, em 1840, foi assassinato do Padre José Bizarro, liberal assumido, arredores de Folgosa, cujos autores, miguelistas, só um deles seria julgado em 1844 e condenado à morte por “enforcamento”, na forca que foi montada propositadamente na Praça Aguilar e, de acordo com a sentença, depois de enforcado, ser-lhe-iam decepadas as mãos para ficarem expostas, durante seis meses, em Farejinhas, donde ele era natural.

Tempos conturbados esses, de ideias e de armas. Mesmo entre liberais. Alguns deles afetos à Constituição de 1822 e outras à Carta Constitucional. Isto mesmo entre membros da mesma família de sangue. Ora veja-se:

Elucidativa é carta da Viscondessa de Samodães dirigida ao seu amigo Padre António Bizarro, queixando-se da escusa do Padre José Joaquim de Almeida Bizarro, irmão do seu confidente, não aderir à sua causa  «debaixo de pretextos mui frívolos e muito inacreditáveis», chegando mesmo a sugerir, ainda que sob a forma de pergunta, que ele estaria do «outro lado», isto é, do lado dos setembristas.

Não sabemos se estava, dado que tanto uns como outros se diziam «liberais» em defesa da Rainha e das Instituições vigentes, mas sabemos que este Padre, em 20 de Maio de 1840, foi  «barbaramente assassinado pelas sacrílegas mãos dos sempre infames José de Almeida Simões, por alcunha o «Raposo», Bernardo da Silva e José Ferreira Novo, o «Ferrinho», seus próprios fregueses do lugar de Farejinhas (…)  Motivou este atroz assassínio a renitência que sempre o assassinado Pároco mostrou a desobediência ao legítimo Governo da Rainha, a Senhora D. Maria Segunda e atuais Instituições Liberais do País, a que sempre aqueles foram adversários, a cuja desobediência os malvados o queriam arrastar como vários outros seus fregueses que para o mesmo assassínio concorreram», tal qual se lê no assento da «certidão de «óbito» feito pelo seu irmão para que, como ele acrescenta «a todo o tempo conste quem foram os abomináveis excomungados que tão horrendo sacrilégio cometeram e os motivos de tão execranda crueldade, fiz o presente assento como irmão do assassinado e Reitor Colado da Igreja Matriz da Nossa Senhora da Conceição da Ermida do Paiva. Declarando que os mesmos assassinos e mais cúmplices ainda hoje confessam quanto aquele seu pároco era exato e perfeito no desempenho das suas obrigações paroquiais, o que se deixa à inteligência dos seus dignos sucessores, examinando a perfeição e asseio com que neste livro e nos mais acharem seus respetivos assentos. Castro Daire 11 de Julho de 1840 – O Revdº António Bizarro d’Almeida». (Certidão de Óbito, maço documentos fornecidos pela D. Alice Aguilar)

Bizarro.SentençaMorte - CópiaOs meliantes acabaram por ser todos condenados, ainda que dois deles se tenham posto na alheta a tempo e horas. A mesma sorte não teve José Ferreira Novo "o Ferrinho", pois assim o diz a sentença proferida em 31 de Maio de 1844, quatro anos e alguns dias depois de perpetrado o crime. Assim:  

«Em 31 de Maio de 1844, foi este réu em audiência geral por sentença do mesmo dia, condenando à morte em huma forca, que será levantada na Praça desta vila e depois de morto lhe serem cortadas as mãos e colocadas em um poste no lugar de Farejinhas, conservando-se assim expostas ao público por seis meses».

Este assunto foi por mim tratado desenvolvidamente na série de artigos que publiquei no meu site sob o título "TRIBUNAL DE CASTRO DAIRE", nos quais questionei a morosidade da Justiça no século XXI,  numa  questão de servidão em que fui Autor, que se arrastou pelos tribunais  quatro anos, tantos quantos um crime de sangue levou a resolver no século XIX.

 

EPÍLOGO

 

 

«Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano,
Catilina, e vós outros dos antigos,
Que contra vossas pátrias, com profano
Coração, vos fizestes inimigos,
Se lá no reino escuro de Sumano
Receberdes gravíssimos castigos,
Dizei-lhe que também dos Portugueses
Alguns tredores houve algumas vezes».


CAMÕES, CANTO IV, EST. 33 

 

 

Se, de mãos em pala sobre os olhos, olharmos, sem paixões clubistas, partidárias ou patrióticas, o nosso passado histórico de «heróis e santos», os retalhos de «correspondência» trocada entre as autoridades militares e administrativas em Beja e os acontecimentos similares e temporais ligados à morte do Padre Bizarro, nos arredores de Folgosa, concelho de Castro Daire,  justificado fica o desalento de Camões, dizendo que «também dos Portugueses/alguns traidores houve algumas vezes». E justificada fica também a minha OPÇÃO DE VOTO, neste ano de 2021, como digo na seguinte CARTA ABERTA, publicada no meu mural do FACEBOOK e o COMENTÁRIO  que entendi fazer, sublinhado que só uma vintena dos meus amigos mostraram a mesma OPÇÃO VOTO, assim:

DRª Ana GomesCARTA ABERTA

Tenho-me batido publicamente (como é notório e público) contra o compadrio, o clientelismo, a corução e amiguismo nas lides políticas nacionais e locais.

Tive militância partidária, mas desvinculei-me do APARELHO PARTIDÁRIO por não me identificar com as práticas desses valores dentro do PARTIDO onde militei - o PARTIDO SOCIALISTA.

A minha última denúncia sobre a falta de ÉTICA que minava esse PARTIDO está na CARTA ABERTA que escrevi, em 2013, a ANTÓNIO JOSÉ SEGURO, aquando das eleições AUTÁRQUICAS. Uma CARTA que ficou sem resposta. Ela está online. É só consultar “Autárquicas 2013” in “TRILHOS-SERRANOS.PT“. http://www.trilhos-serranos.pt/.../128-autarquicas-2013-3...

O caso foi o canditado a presidente da Junta de Freguesia de Mões (sem me ter consultado sequer) ter usado o meu NOME e o meu ROSTO num desdobrável de campanha política, dizendo ter o MEU APOIO. Não era verdade. E, apesar de eu denunciar tal comportamento, o silêncio em torno do caso por parte das estruturas locais, distritais e nacionais do PARTIDO FOI ELOQUENTE. Um mal sem remédio.

Por assim ser, e porque os valores que norteiam ANA GOMES são os mesmos pelos quais me tenho batido, apoiado nesta réstia de SOCIALISMO que, aos OITENTA E UM ANO DE VIDA em mim prevaleceu, o meu VOTO, nestas ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS, vai direitinho para essa GRANDE SENHORA. Corajosa, destemida, diplomata, com CURRICULUM VITAE conhecido, sem receio dos PODEROSOS, sempre pronta a denunciar, pelas vias possíveis, as artimanhas com que minam a DEMOCRACIA, ela merece ocupar o lugar de “PRESIDENTA DA REPÚBLICA”. (Não é erro meu: escrevi mesmo PRESIDENTA).

COMENTÁRIO SUBSQUENTE

 SONDAGENS

Com os pés assentes na terra e as SONDAGENS a darem o SEGUNDO LUGAR à SENHORA candidata ANA GOMES, nem por isso desisto da minha intenção.

Ocorrendo as eleições em tempo de PANDEMIA, votar numa CIDADÃ, alegadamente perdedora, bem pode ser o meu último ACTO CÍVICO, mas, como nunca andei a toque de caixa (só na tropa) não enfileiro no “rebanho” seguidista, sinalizado pelo APARELHO SOCIALISTA.

AZEVINHO.AbílioDe resto esta minha declaração pública da OPÇÃO DE VOTO, à qual aderiram vários amigos (até agora cerca de uma vintena) serviu como BARÓMETRO de medição de como vai o SOCIALISMO por estas bandas e o seu aconchego à DIREITA.

Por assim ser, é que eu me pus “ao largo” do APARELHO há muito tempo, sem, todavia, abdicar dos meus ideais e VALORES socialistas, entre os quais a DEFESA DO AMBIENTE. Alguém se lembra do vídeo e do texto que fiz e escrevi sobre o DERRUBE das árvores no PARQUE JAE em FAREJINHAS? Viram algum COMUNICADO do PARTIDO SOCIALISTA a denunciar esse ATENTADO contra o AMBIENTE?».

 Sim, se «entre os Portugueses, traidores houve algumas vezes», como disse Camões e nós constatamos a cada passo,  eu a «traidores» acrescentaria, como ficou sobejamente demonstrado na correspondência de Beja, muitos «desertores».  E o PARTIDO SOCIALISTA há muito que «desertou» dos seus valores fundacionais, para seguir os valores da «conveniência».

 

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.