Se bem se lembram o meu amigo, filmando a burra, disse que ela “tinha trazido o pão” e, depois de todas as expoicações acerca do moinho rematou dizendo: “e pronto continua a moer o pão”.
São expressões correntes na linguagem popular, mas naturalmente estranhas para todos aqueles que conhecem o FABRICO DO PÃO e sabem que a moagem é apenas uma delas.
Ora, dita essa expressão com a naturalidade que ouvimos, é preciso entendê-la no contexto sócio-linguístico do falante, que o mesmo é trazer à colação os conceitos correntes na comunicação social entre as pessoas do campo que a “FALAR SE ENTENDEM”, para usarmos estoutra expressão muito vulgar nos meios académicos.
Vou exemplificar. Em Cujó, como noutras aldeias da serra, o valor de COMPRA, VENDA OU TROCA de “propriedades rústicas” nem sempre se avaliava pela área que tinham, mas sim por aquilo que eram capazes de produzir. Se era uma terra de semeadura, dizia-se que era propriedade para dar “X alqueires de pão”. Se era terra de pasto, dizia-se que era “lameiro para dar X carros de feno”.
Assim sendo, as expressões usadas pelo meu amigo, ANTÓNIO PEREIRINHA DOS SANTOS, quando disse que “a burra tinha trazido o pão”, que o moinho “continuava a moer o pão”, mais não fez do que transmitir, de forma usual e simplificada, uma das fases por que passa esse produto alimentar até chegar à mesa. Todo o aldeão aceita com naturalidade ouvir dizer vou “colher o pão”, vou “malhar o pão”, vou moer o pão”, vou “amassar o pão”, vou “tender o pão”, vou “cozer o pão”, vou pôr o “pão no açafate” e “vou pôr o pão na mesa”. Certo?
É por estas e por outras que eu digo que O FACEBOOK É UMA LIÇÃO. Aceita que se ponham aqui coisas SIMPLES, mas coisas SÉRIAS, dignas de reflexão. E excluo dessas coisas um “PRAIA FLUVIAL NO RIO CALVO” que, no verão, não tem água capaz de fazer andar um moinho.