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quinta, 28 maio 2020 13:12

«NOTÍCIAS DE CASTRO DAIRE»

Escrito por 

UMA MORTE ANUNCIADA

Há dias recebi, na minha caixa do correio analógico, um folheto azul que me deixou triste. Nele se faz eco público da má situação em que se encontra o “Notícias de Castro Daire”.Tenho acompanhado as dificuldades da imprensa regional, em geral  e quanto a PANDEMIA veio agravar a situação.  Como já me encontrava «desvinculado» desse órgão de comunicação local, aqui deixo as razões  da minha tristeza em correspondência trocada com o atual Diretor, Marco Lacerda, de quem sou amigo e cuja família muito estimo.

 

PRIMEIRA PARTE

Não vou cometer a inconfidência de publicar aqui, na íntegra, a correspondência que troquei com ele e, muito menos, esplanar as razões que ele me  apresentou para justificar a situação, mas isso não me impede deixar aqui as palavras que lhe enviei a propósito. Assim:

fOLHETO - RED«De qualquer forma, lamento profundamente tão má notícia, mas, como bem sabe e eu lhe fiz ver atempadamente, um jornal distingue-se bem de um MURAL DO FACEBOOK. E que fazer jornalismo é algo mais do que a boa ou má PAGINAÇÃO dos seus conteúdos. E o Marco, por certo, compreendeu que essa foi uma das razões que me levaram a desvincular do jornal. Lembra-se? Mostrei-lhe o meu desconforto com a EQUIPA REDATORIAL e o Você fez-me ver as dificuldades que tinha para mantê-lo vivo, por estar ausente. Lamentou que eu saísse...e por aí ficamos.

Muitas pessoas me perguntaram as razões da minha ausência, que o jornal tinha perdido qualidade, e eu, pela consideração a si, à sua irmã, à sua mãe e memória do seu pai, lá justificava a situação, alegando cansaço, que era tempo de dar espaço aos mais novos, mas o que verdadeiramente sentia eram as razões que lhe fiz ver no e-mail de DESVINCULAÇÃO. O jornal nunca mais me foi mandado e, por isso, só por terceiros ouvia esse tipo de avaliação negativa. Mas hoje, ao ler aquele folheto, conclui que vi antecipadamente morte anunciada de um ÓRGÃO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, cujo fim lamento. Oxalá, não.

Espero que arranje uma SOLUÇÃO, que ele prossiga, que tenha uma vida longa, mas isso jamais acontecerá sem a MUTAÇÃO QUALITATIVA exigida.Tenho dito no meu site que quem “CULTIVA O BÁSICO NUNCA ATINGE O EXCELENTE” e nesse mesmo site tenho publicado matéria de interesse jornalístico que, fosse outra a qualidade do CORPO REDATORIAL, tê-la-ia chamado às suas colunas. É só consultar e ver.

ROSTO-2-REDFoi um desabafo meu para consigo e disso não passa, pois, tal como para o CORONA, não tenho, nem vejo remédio, nem vacina.

Certamente sabe que escrevi um livro sobre a IMPRENSA LOCAL desde 1890, editado pela Câmara Municipal. Todos os títulos que identifiquei sobre os quais pude discorrer. Nem sabe o que me custou desvincular-me deste e muito mais me custa vê-lo morrer. Nesse livro, já não me lembro se ainda passou pelas páginas do NOTÍCIAS DE CASTRO DAIRE (enquanto notícia) discorri sobre o valor dos jornais locais, fazendo, aliás, questão de colaborar só neles, como se poderá ver no meu currículum. E não foram poucos. Daí que, sabendo embora, que tendo, muitas vezes, de sujeitar-nos à prata da casa, e sabendo que a PUBLICIDADE é o suporte indispensável, a verdade é que não se pode descurar a sua QUALIDADE. E, como lhe disse, as pessoas, ultimamente, porque me identificavam com o jornal, queixavam-se-me de ter aumentado o custo da assinatura e baixado a qualidade. Mas isto é chover no molhado. Se me tem lido, sabe que considero as coisas, todas elas, a nossa extensão humana, e o fim de um projeto no qual trabalhei com o seu pai, é para mim uma mágoa. Eu bem me lembro da dificuldade que tive como angariador de publicidade para o jornal “A VOZ DO MONTEMURO” também com o seu pai envolvido em 1985, e depois para a Rádio Limite.

Seja como for, jovem que ainda é, outros projetos surgirão. E este não deixou de cumprir o seu papel durante a vida que teve, por isso, tendo feito o pôde, a mais não é obrigado.

 

IMG 4206 - Cópia - Cópia

  

SEGUNDA PARTE

E, para que conste nos anais da IMPRENSA LOCAL (escrita e falada), nomeadamente a RÁDIO LIMITE, COOPERATIVA de que fui PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA GERAL e colaborador em alguns programas de António Gonçalves, vem mesmo a propósito colar aqui uma crónica que publiquei nas páginas deste periódico, em 2001, com o seguinte título:

O RETORNO DE UM ROSTO E DE UM NOME ÀS COLUNAS DESTE JORNAL

(14-01-2001)

ROSTO-1«Se bem me lembro», como diria Vitorino Nemésio, já lá vai mais de um ano que a minha foto e o meu nome desapareceram das colunas deste jornal. Mais concretamente, isso aconteceu  a partir do jornal nº 212 de 24 de Novembro de 1999.

 Num artigo então publicado, em resposta a uma provocação que me foi feita, saída na página 2 do número 211 de 10.11.99, intitulada “Príncipe Perfeito, o anónimo autor, ainda que não referisse o meu nome (para bom entendedor meia palavra basta) agastado com os artigos que eu fizera sobre o trânsito na vila, dizia que “um jornal local (…) pode ser um meio de promoção, vulgarização de gente nova avessa à humildade e que transforma um jornal em palco de vaidades”.

Ora, tendo eu sido treinado para descodificar os textos pelo “stylo atento aos contextos e pretextos (o autor devia estar a ver-se ao espelho) mesmo que o produto aparecesse sem assinatura, vi que ele tinha recebido o aval da Redacção e, portanto, havia um companheiro de viagem que, movimentando-se no mesmo espaço que eu – o espaço do jornal –, merecia a resposta que lhe dei e na qual, à laia de despedida, escrevi: por isso, bem contra o que eu esperava e queria, não posso deixar de dizer que me repugna ter neste jornal tal “cousa” ou “coiso” por companhia”.

Muitas foram as pessoas que, entretanto, estranhando a minha falta de colaboração, se me dirigiram oralmente e por escrito a pediram para eu continuar a escrever. Não atendi nenhuma delas apesar do respeito que me mereciam e merecem e, sobretudo, pelo testemunho que me deram  pessoalmente de apreciarem os meus escritos e a postura que, normalmente, assumo face às coisas que interessam à comunidade castrense e não só.

Faço-o somente agora, passado que foi mais de um ano. Porquê? Porque, como se lê no último número doNotícias de Castro Daire” a Redação, a mesma que deu o aval à provocação acima citada, em nota introdutória ao texto (*) escrito pela senhora Professora Doutora Margarida Sobral Neto, da Faculdade de Letras de Coimbra acerca do meu último livro “Julgamento”, procedeu ao necessário desagravo, dizendo: “o Dr. Abílio de Carvalho não se promove nos jornais. Os jornais é que se promovem com os seus escritos”.

Não é bem assim. Não penso bem assim. Nem quero que seja assim. Mas retirado que foi o labéu de me andar a promover nas páginas do jornal onde sempre colaborei de boa fé e no sentido de ser útil à comunidade, assumindo a minha cidadania intervindo através da escrita, diferentemente daqueles que a assumem por tantas outras vias… fica o caro leitor informado que poderá, doravante, contar com a minha colaboração, dentro dos limites da minha inteligência e tempo disponível. E tudo bem, quando, por bem, tudo acaba em bem. Quando as pessoas são suficientemente inteligentes e humildes para reconhecerem que se excederam mutuamente na apreciação na linguagem.

Mas neste meu retorno ao jornal, com nome e rosto, quero aproveitar a oportunidade para agradecer a todos aqueles que estiveram presentes no Salão Nobre da Câmara Municipal aquando do lançamento do meu último livro. Agradecer as palavras generosas que, na circunstância, ali foram ditas por todos os intervenientes e também àqueles que me telefonaram e escreveram desculpando-se por não terem correspondido ao convite que lhes foi feito, quer pela Editora, quer pela Câmara Municipal. Mesmo ausentes, mostraram o seu interesse pelo que de novo se vai fazendo em Castro Daire no âmbito da Cultura e da História.

COLABORADORES-RESUma ausência notada no evento foi a da Rádio Limite” (Cooperativa de Produções Radiofónicas de que sou cooperante), também ela convidada pelo Pelouro da Cultura do Executivo Municipal.

Mas não têm razão aqueles que me fizeram notar tal ausência. Os actuais responsáveis é que devem estar cheios de razão para assim procederem. Eles entenderam, certamente, que o lançamento de um livro em Castro Daire, independentemente do seu conteúdo e autor, não constituía notícia, não merecia cobertura informativa. Lançar um livro em Castro Daire tornou-se uma coisa tão frequente e tão banal que deixou de interessar aos ouvintes e cooperantes. Um evento que envolveu uma Editora, o parecer de uma professora universitária, do vereador do pelouro da cultura, dos presidentes da Câmara e Assembleia Municipal e outras entidades concelhias, era bué académico, bué maçador. Numa palavra, chato. Dar-lhe cobertura era perder a guerra das audiências, pois em tempos de Big Brothers e Acorrentados, estar na onda é, (não com limitados, mas com subidos e sabidos critérios jornalísticos), preencher programas e ocupar tempos de antena com a cultura da anedota, da laracha, do vazio de ideias do chico esperto, do viródisco e tocómesmo e se elas (coisa e tal) nós pimba.

Ora, como eu sou um cooperante da Rádio Limite e desejo que ela se desenvolva prosseguindo os seus objectivos estatutários - culturais e informativos - a fim de, mais tarde ou mais cedo, colher os dividendos da sua boa gestão, louvo-lhe a sua atualidade, o estar com os tempos, com a moda, com os acontecimentos de suma importância para as gentes do concelho e da região e, por isso, daqui apelo a todos os leitores para a sintonizarem, para nela investirem, pois vale bem a pena. E para mais rápida sintonia, para que não haja engano, aqui deixo a sua  frequência: 89 PONTO ZERO.

(*) Este texto foi publicado na íntegra na página 5 do último número deste jornal. Porém o itálico, usado pela autora nas transcrições que fez do livro, ficou-se escondido, em grande parte,  no computador da Gráfica responsável pela composição e fotolitos do “Noícias de Castro Daire”. Por isso, dada a deturpação do texto original, se pede desculpa à autora, já que esta nada tem a ver com a salgalhada que saíu impressa».


Escrito e publicado  em 2001, bem posso perguntar o que terão estas as minhas palavras de premonitório?. O que for se verá. Mas mantenho: «quem cultiva o básico, nunca atinge o excelente».

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.