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domingo, 29 março 2020 14:34

EX-ALUNO

Escrito por 

DAVIDE FERREIRA

A vida tem destas surpresas. Ontem, sintonizado num do CANAIS CABO, atento ao mundo e aos condicionalismos impostos pelo ESTADO DE EMERGÊNCIA decretado pelo Governo, direi melhor, imposto por um ser microscópico, que se tornou SENHOR DO MUNDOCORONAVÍRUS - sobre o qual já fiz CINCO crónicas alojadas no meu site “TRILHOS SERRANOS”, com porta aberta no FACEBOOK, ontem, dizia eu, fui surpreendido por um SENHOR a falar desempoeiradamente para a câmara do jornalista, nas funções de “RELAÇÕES PÚBLICAS DA GNR”. Militar da CORPORAÇÃO, patente de CAPITÃO, aquela cara dizia-me algo. Eu conhecia aquele SENHOR de algum lado. De há mito tempo, seguramente.

Davi1 - Cópia

E é costume meu testar a minha memória em casos destes. De escaninho em escaninho, EUREKA! É ele. É o Davide, de Mões, filho do Zé Manel, meu colega. E neste meu «vai e não vai», eu, de barba branca, e ele homem de barba preta vincada, «é ou não ê», a notícia foi-se.

Felizmente os equipamentos cá da casa permitem-me retroceder. Peguei no comando e toca a fazer marcha atrás. E se eu não posso fazer isso na vida real, fi-lo em MEMÓRIA. E assentei. É ele mesmo. Fotografei o ecrã da TV, fiz um pequeno DAVIDE-LIVROStexto e “prantei-o” no FACEBOOK.

E pronto. A partir daí, eu que pensava que ninguém ligava patavina aos meus “posts” foi um ver se te avias de GOSTOS a picar no POLEGAR virado ao ar. Vinte e tantos…se calhar mais...

E, depois disso, outra surpresa. De ontem para hoje apareceram-me uma caterva de PEDIDOS DE AMIZADE no Facebook. E, como sempre faço neste meu critério seletivo, fui ver o PERFIL dos candidatos a quererem entrar no meu rol. Pois. Ou são naturais de MÕES ou foram meus alunos. Dei entrada a todos, mas ciente que os  afetos que agora ACORDARAM se devem a DAVIDE FERREIRA, o CAPITÃO DA GNR, a exercer as funções de RELAÇÕES PÚBLICAS. Um SENHOR!

Davide-96-97 - - CópiaDito isto convém repetir o que disse ontem. O facto de nunca mais ver tal cidadão  após a saída da escola, acompanhei a sua carreira profissional através do pai, meu amigo e colega de ofício. E já, em tempos idos, lhe fiz chegar o «fac símile» da FICHA ESCOLAR e uma fotografia da turma que hoje aqui reponho, com muito gosto. É que, um dos meus hábitos, enquanto docente, foi nunca me “descartar” das CADERNETAS ESCOLARES e, dentro do possível, acompanhar, com interesse e amizade, os percursos de vida dos meus alunos. Uns, consegui acompanhar. Outros esfumaram-se nas encruzilhadas do mundo. Outros ainda, cujos traços fisionómicos se alteraram com os anos, só os reconheço quando são eles a vir ter comigo -  pais ou mães de família - e me perguntam: “não me conhece? Fui seu aluno. Fui sua aluna”. Eles nem sabem quanto lhes fico grato. É como se fossem eles a pegar no comando real da vida e me fizessem retornar ao ativo, aqueles tempos em que nas aulas de APRESENTAÇÃO eu lhes dizia que, a partir dali, vissem em mim um SEGUNDO PAI. Alguns estranhavam a minha afirmação, mas depois de explicada, creio que nunca esqueceram isso. Eu, seu segundo pai e fazer por eles o que fazia pelos meus filhos.

Davide - TURMASó mais uma nota, acerca do meu primeiro relacionamento com qualquer turma. No momento do preenchimento da FICHA ESCOLAR eu entregava a folhinha a cada qual. Feito isso, subia para o estrado e, em conjunto, linha a linha, eles iam seguindo as minhas instruções por forma a lançarem no papel, o seu nome, ano e turma, o nome, profissão e morada dos pais. Preenchidos esses campos, eu sugeria uma sinalética suplementar. Que era eles escreverem um “T” na quadrícula reservada à fotografia. E assim faziam. Com esse gesto eu ficava a saber se podia ou não usar este ou aquele programa de TELEVISIVO como meio de aprendizagem, trazendo para as aulas os assuntos televisionados.

E nem queiram saber. Nos tempos que correm, esta minha sugestão, seria claramente ridícula. Hoje, como então, para não criar complexos entre eles, em vez de sugerir que deixassem na quadrícula o “T” de televisão, teria de ser o SMARTPHONE ou IPAD. Mas, para que se saiba, na altura, por estas bandas da serra, as televisões eram tão “raras como os ciprestes” para usar a eloquente expressão daquela pastora de Mós, quando, no monte com o seu gado,  lhe perguntei sobre o uso de sapatos ou tamancos. “Sapatos? Eram tão raros como os ciptrestes”. É só ir ao Youtube e ver o vídeo.

Mutatis mutandis, aqui deixo a analogia.

Isto para verem que na docência, há métodos e pedagogia. A ficha escolar preenchida assim, nenhum aluno tinha de dizer em voz alta a profissão dos pais e se tinham ou não televisão. Só eu e eles sabíamos isso e interagíamos em conformidade.

E para aqueles que, com laivos de ironia, despeitados, pensarem que esta crónica se deve ao facto de este meu ex-aluno, DAVIDE FERREIRA, ter singrado na profissão que escolheu, eu direi que pus nela o mesmo gosto e os ditames da consciência que me levaram a fazer aquelas crónicas  que dediquei ao  factotum Zeca Carneiro, ao bate-chapa Vitor Zapa, ao engraxador Mateus e ao Dr. Albano Pereira Júnior, «Professor Extraordinário do II Grupo (História Natural e Farmácia) da Escola de Farmácia de Lisboa”. Natural dos Braços e poucos são os que por aqui sabem disso. Tudo GENTE DA TERRA, pessoas que por cá, ou ausentes dela, fizeram VIDA, sem medo da COVID 19, aquela coisinha que nos meteu todos no casulo e, por essa razão, me apareceu na televisão aquele menino que aqui deixo, em tempos de ESCOLA PREPARATÓRIA e agora, homem feito e de BARBA RIJA.

Parabéns SENHOR CAPITÃO!

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.