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sexta, 29 novembro 2019 11:44

MENDICÂNCIA...OUTRORA....SUBSÍDIODEPENDÊNCIA ...AGORA

Escrito por 

(REGISTO DO DIA)

É caso sabido. Se em tempos idos eram mais do que muitos os mendigos, actualmente há consciência pública da subsídiodependência e, se não me  baralho,  ser mais que muita a gente que se apega ao rendimento mínimo, mandando à fava o trabalho.

Ontem, enquanto me entretinha a navegar na Net e a ver como vai o mundo distante e o que esse mundo promete, no Café, ouvia, assim, como ia o mundo em redor de mim e como ele é. 

Um lavrador, de expressivo semblante,  por mais voltas que desse à mona, dizia, lamentava-se da dificuldade que tinha em arranjar mão-de-obra para apanhar azeitona. Mas sabia e presenciava que, numa pastelaria da terra, abancava cedo um número de pessoas que nada fazia, a não ser receber o subsídio mensal de que se vestia e comia. Vai mal Portugal, repetia.

Eu não o conhecia, mas ele avançava sem medo. Não está bem assim. Em nome do emprego, e da pobreza (não me enganam a mim, não) com subtileza, os governos criam cursos de actualização disto e daquilo, cursos de entretenimento, porém, a formação, que é dela? Pagam-lhes para frequentar esses cursos, mas, quem precisa,  não encontra um eletricista, um canalizador, um bate-chapas e os caminhos públicos atravamcam-se de silvedos, arbustos, matas, prenúncio de fogos e lágrimas.

Estamos num país de desmandos e de balela. E, senhores, são os próprios formandos a dizerem que tais cursos beneficiam mais os formadores do que as carências locais de emprego e de trabalho. Trabalho? Qual quê? Era o que faltava? Isso faz curvar a espinha, levantar cedo, cumprir obrigações e para quê fazer calos nas mãos se, como se vê, certinho se tem, sem mexer uma palha, o ordenado mínimo mensal? Só quem fosse tolo. E assim vai Portugal. Um consolo.


Numa só mesa de Café estavam dois. Calou-se um por instantes e outro rematou irritado, pouco tempo depois. É o Estado que temos, são os nossos governantes e o estado a que chegamos. A chuva e o vento, levaram-me metade da colheita. E, com tanta gente assim presa à mesa do orçamento, ninguém deita mão isto. É assim em todo o lado. Dou voltas e voltas à mona e não encontro quem aceite colher a azeitona, ganhar o dia, fazer azeite melhorar a economia. Estou danado. A esmola de outrora é o subsídio de agora. O mendigo de antigamente deu lugar ai subsídiodependente.


Mais. Ironia das ironias, acrescentou: no verão passado, enquanto eu me preocupava em gerir as tarefas do dia, ouvia, vindo da moradia de um casal que vive do rendimento mínimo o diálogo entre homem e mulher:


-  Para que piscina vamos hoje, já escolheste?

- Não, escolhe tu onde queres refrescar a piolha.


E como quem está num Café, tudo ouve e tudo olha, sem aos políticos fazer fretes, sob o meu ouvido e olho, ficou o feminino de piolho prestes a refrescar-se em banho. E, denunciando falsa lazeira, ficou rambém o tamanho desalento do lavrador que não encontra gente que aceite trabalhar no campo para colher o azeite pendurado nas oliveiras.

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.