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sexta, 14 junho 2019 12:06

«REINÓIS DE TAIFAS»

Escrito por 

A VERDADE É COMO O AZEITE VEM SEMPRE AO DE CIMA

A vida não anda a correr muito bem para certos “reinóis de taifas” desta nossa «República, católica, apostólica, romana».  Eu comecei a falar deles no meu livro “Julgamento”, editado em 2000. Já decorreram, portanto,   DEZANOVE   anos. E a atestar isso mesmo, aqui deixo o «fac simile» de uma página integral (p.135) desse meu livro, início do capítulo com o título “SONHO”. Era mesmo um sonho...

REINÓISPara facilitar a vida aos meus amigos, para dispensá-los de irem consultar o senhor Dr. Google, direi que, no contexto da história ibérica (...) afora o poder centralizador do califado, as “taifas” eram territórios identificados, em princípio, com uma “família, clã ou dinastia”. Entre os séculos XI e XII os “reis das taifas” competiam entre si, ávidos de poder e de prestígio. E nesse desiderato patrocinavam os mais conhecidos poetas e artesãos.

Será preciso dizer mais? Já sabem de quem falo, ou ainda não, depois das notícias propaladas pelas televisões e jornais, em resultado das investigações feitas no país inteiro pela Polícia Judiciária e Ministério Público? 

É isso. Quem anda por aí a fazer obras de ajuste direto, a patrocinar obras de “escritores” e “poetas”, cujo conteúdo não interessa “ao Menino Jesus” e tão somente aos patrocinadores, a troco de vassalagem, vénias e salamaleques? Onde diferem, os agora suspeitos, os SENHORES DISTO TUDO, desses distantes “reinóis” tão poderosos que eram até se diluírem na barra cronológica da história?

Ultimamente, e duma assentada só, uma série de autarcas (os tais “reinóis” que se sucedem a si próprios por via da eleição, cf. “fac símile” da página impressa) caíram nas malhas da justiça. Não foi por irem à missa duas vezes. E, se calhar, não faltou quem os alertasse para a atmosfera de corrupção  (esse poliedro de mil faces, cores, áreas e dimensões)  compadrio,  clientelismo e tudo o mais que fez soar as sirenes por forma a apagar tão funesto fogo, aquele que por aí continua a queimar, a larvar e a danificar o tecido político-administrativo que, em vez de agasalhar e proteger o BEM COMUM, agasalha e protege somente os interesses de uns poucos, de uma “família, clã, ou dinastia”?

Defensor da REGIONALIZAÇÃO, contra o CENTRALISMO que tem  DESERTIFICADO  o país periférico, continuarei a bater-me por essa reforma política-administrativa. Mas, publicamente, confesso o receio das atitudes e abuso do poder desses nossos “reinóis” sem escrúpulos e sem vergonha que vão governando a “res publica” ou nela se vão governando. E, neste ponto, só dou uma garantia. Eu farei como a Amália: “cantarei até que a voz me doa”.

MULATA-Fi-lo há DEZANOVE anos, num romance histórico, de forma impessoal e não fulanizada. O juízo não incidia sobre A, B, ou C, incidia sobre a história, as instituições e os valores que lhe dão corpo. Defluía da investigação, do estudo e do conhecimento. Foi no livro “Julgamento. E premonitório foi esse título, pois de “julgamento” (público e judicial) não escaparão aqueles que, contra a história, o estudo e o conhecimento, se julgam intocáveis, seguros de pedra e cal, recostados nas cadeiras do poder, seja ele político, educativo ou associativo. E não colhe meter no cacifo do expediente «PENDENTE»  a correspondência que merece resposta.

Cartas com o nome do remetente e do destinatário. E não me refiro à CARTA ABERTA que, em 2013, escrevi a ANTÓNIO JOSÉ SEGURO (então Secretário Geral do PS) denunciando o facto de um candidato nas listas socialistas à Presidência de uma Junta de Freguesia (Mões) ter usado, abusivamente, o meu NOME e ROSTO, num desdobrável de campanha política, sem a minha autorização. Não vale tudo em política.  ÉTICA e HONRA precisam-se. E esses silêncios e outros é que levaram João Miguel Tavares, no dia 10 de junho p.p.  a falar no distanciamento recíproco entre ELEITOS e ELEITORES. É que o levou a dizer o que disse e como disse: NÓS e ELES.

Houve quem não gostasse do seu discurso. Mas ele soube ler a textura política, social e económica do passado e do presente. Não esqueceu a descolonização e os dramas sociais e humanos dela decorrentes. 

Mas, imodéstia à parte, em muitos dos meus escritos e também no meu livro “Julgamento” eu antecipei uns anos essa leitura. Tal como antecipei a alusão aos amores de Camões e de uma “cativa” de “cor escura”.  Os afetos não têm cor. Mais integração e menos racismo. É só ler o “fac simile” do texto deixado nos meus TRILHOS SERRANOS, no dia 10 de janeiro do ano passado, com o título “PENSAMENTO FUGAZ”. E ficamos conversados.

Enganam-se, pois, os políticos - centrais e locais - que, coniventes com as instituições, empresas e associações (quaisquer que elas sejam), calam ou pisam os valores morais e éticos,  julgando que caminham sobre as águas como Jesus nos mares da Galileia. Não. A comunhão de interesses e silêncios que vão contra BEM COMUM são pesados demais para eles se manterem «levezinhos» sobre as ondas. Mais cedo ou mais tarde afundam-se.

As notícias que, nos últimos dias, ecoaram nos jornais, televisões e redes sociais, são a prova dos nove das erradas e “silenciadas” contas que fazem. Há sempre vozes que se levantam. Há sempre quem não receei assumir o papel do ferreiro que não se cansa de “malhar em ferro frio”.

Cá por mim, com OITENTA ANOS DE VIDA FEITOS no DIA DEZ DE JUNHO p.p.. DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES, enquanto tiver músculo e movimento, ciente das consequências desta minha ousadia, farei tilintar na bigorna tudo o que me soar a MENTIRA e a INJUSTIÇA. Até o SILÊNCIO.

Só!

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.