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segunda, 16 outubro 2017 13:27

CASTRO DAIRE - GENTE DA TERRA - X

Escrito por 

HISTÓRIA VIVA - PADRE ANTÓNIO SILVA

Nestes meus trilhos serranos, sempre na pista e perseguição de factos e protagonistas da HISTÓRIA LOCAL, tropecei cedo com o nome do Padre António Silva e seus quefazeres. Estávamos em tempo de Monarquia, mais propriamente em 1907, e debruçado sobre o jornal «A Voz do Paiva», fundado em 1899, por José Duarte de Almeida e Amadeu Rebelo de Oliveira Figueiredo, o primeiro na qualidade de «editor» e o segundo  de «administrador», vemos que, em 1907,  José Duarte de Almeida figura no cabeçalho domo «proprietário» e como «diretor» temos já o Padre António Silva. 

António Silva-2 - Cópia

Deixei essas referências no meu livro «Castro Daire, Imprensa Local, 1890-1960», editado pela Câmara Municipal, em 2014, aquando do restauro dos prelos (de chão e de mesa) que hoje enriquecem o Museu Municipal, mas que tão esquecidos têm estado por parte dos responsáveis concelhios pela divulgação da nossa CULTURA, nomeadamente de tão valiosas e significativas peças históricas. O livro que, a propósito fiz «pro bono» com o título acima referido, e que me deu muito trabalho, como é bom de ver, jaz algures oculto dos olhos do público. Quem entende isso? De que servem os «agradecimentos burocráticos» pelo tabalho que fiz e depois autor e obra serem «proscritos» e  subtraídos ao conhecimento do público? As eleições de 01 de outubro p.p. puseram nas cadeiras do Município pessoas diferentes, vamos ver qual o procedimento e a bitola de valores que o novo Executivo vai adoptar. Por mim mantenho, desde há muito, que «quem cultiva o básico, nunca atinge o excelente». E que não é preciso ir à missa ou ser sacrista para perseguir valores cívicos, morais e éticos em prol da sociedade.

Voltando ao Padre António Silva digo que ele se mantém nas funções de «diretor» do jornal até 1909, já que no  número 493, de 7 de março desse ano, outros nomes passam a figurar no cabeçalho do periódico, dito, «semanário imparcial, agrícola, bibliogaphico, literário e noticioso»  com «redação, administração, composição e impressão na Tipographia de «Voz do Paiva»  na rua «Nova da Boa Vista - Castro Daire». (ob. cit. pp. 19-20).

Empenhado na causa pública, em 1908 o seu nome aparece integrado na lista dos membros efetivos nomeados para a Comissão Administrativa que tinha a responsabilidade de gerir os negócios políticos concelhios, até «ser eleita a nova vereação». 

P-Silva-1932 - REDZTemos assim que, para além do múnus sacerdotal, o Padre António Silva se dedicava à política. E nesse ano as coisas andavam acesas por estas bandas com os políticos locais divididos em republicanos, progressistas e regeneradores. Na lista de 15 elementos cujos nomes foram publicitados nesse jornal, como candidatos à eleição,  em 1908, apesar de nela estarem integrados 5 clérigos o nome do Padre António Silva está ausente. Era a lista progressista. O nome dele aparece sim, mas na lista dos   regeneradores.

Feito o sufrágio ganhou a lista dos regeneradores e o Padre António Silva, ainda na condição de diretor do jornal, foi empossado como vice-presidente da Câmara. E o jornal sublinhava, certamente com a alegria da vitória: «a lista progressista-nacionalista sofre uma derrota formidável». (cf. «Implantação da República em Castro Daire-I» pp 38, da minha autoria).

Chegada a República mudaram-se as pedras do xadrez político concelhio e, ainda que os monárquicos tenham dado mostras de vitalidade através do jornal «A União»  que substituíra ideologicamente o periódico anterior, que tinha por «diretor» o Padre António Silva, outros clérigos, agarrados à pena, combatem o Novo Regime nas páginas desse jornal que tinha pela frente «O Castrense» afeto às hostes republicanas e também com Amadeu Rebelo de Oliveira Figueiredo na primeira linha.

Em 1915 os monárquicos simpatizantes da Monarquia, reuniram-se algures na vila e fundaram o Centro Monárquico, com estatutos e tudo. A ata da reunião foi assinada por 104 pessoas, entre as quais 17 eram clérigos. Um deles era o Padre António Silva. Mas derrotada que foi a MONARQUIA DO NORTE de Paiva Couceiro, em 1919, os monárquicos e seus acólitos só viriam a retomar fôlego com o 28 de Maio de 1926. Após esse golpe, os republicanos são afastados do poder autárquico e são os monárquicos chefiados pelo Dr. João Simões de Oliveira que tomam assento nas cadeiras dos Paços do Concelho, de onde «saíam bem ou mal...determinações» para o concelho, como nos diz Carlos Mendonça, numa das suas quadras na digressão que faz pelas ruas e prédios da vila. Assim:

 casa padre SilvaA seguir vinham quatro repartições: 

Finanças, Câmara e o velho Tribunal, 

Administração, donde saíam bem ou mal 

 Para o concelho e comarca, determinações.

E este castrense, Carlos Mendonça, um dos ex-proprietários do Solar Brasonado, onde funciona hoje o «Centro de Interpretação do Montemuro e Paiva» deixar-nos-ia algumas informações mais, ligadas ao Padre António Silva e ao Padre  Germano.   

Assim:

 

 

 

Falarei  agora dos castrenses "padres"

António Silva e pachorrento Germano

Ambos portadores pecado humano

Pois necessitaram de arranjar "compadres"

E caminhando Estrada Real abaixo, hoje (2017) transformada na mítica E.N. N2, falando de propriedades, pessoas e profissões, escreve:

Havia um quelho, isto não é peta

Que levava à casa com quinta, das Eiras,

Onde aprenderam muitas costureiras

Com a mestra Umbelina Fogueta

 

Junto a ele e estrada, as padeiras,

Irmãs, uma tia, outra foi a madre

Do António Silva, o famoso padre

Inteligente, deixou as criadas herdeiras.

Irónico, Carlos Mendonça deixa em quadras o retrato físico e psicológico de Castro Daire e das «gentes da terra».

Relatório-1 -REZEu completo a sua narrativa dizendo que o nome do Padre António Silva aparece na LISTA DE SÓCIOS da Associação dos Amigos da Escola, no RELATÓRIO DE CONTAS correspondente ao Ano Escolar de 1945-1946, que chegava ao destinatário pelo Correio, como se vê na foto anexa ao lado..

E bem assim no «Relatório e Contas da Gerência de 1949» do «Grémio da Lavoura de Castro Daire» de 1950, integrando a Direção que era formada pelos seguintes elementos:

Pio Cerdeira d'Oliveira Figueiredo,  

José Maria de Silveira Lacerda Pinto  

Padre António Silva.

Que mais não fosse, todas estas referências ao seu nome e ação política e social fizeram com que ele tomasse lugar nesta minha série de crónicas com o título «GENTE DA TERRA».

E como a História é uma lição de vida, mal ficaria não deixar aqui um documento onde ele revela  as dívidas que tinha e a preocupação de elas serem pagas pelas suas «creadas», caso ele morresse sem as ter saldado. Compare-se essa preocupação com o diálogo que presenciei há dias numa loja comercial: «olhe, quando puder... agradecia...». «Ah, ainda bem que lembrou...já nem me lembrava disso». «Pois». «E veja que por tão pouco não ia atirar com o meu nome à lama». «Pois...pois...» «Então quando puder...» «Sim...sim... um destes dias venho cá e pago tudo».

Dívidas-1950 - Redz



 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.