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segunda, 08 fevereiro 2021 15:29

O COMPADRE JOAQUIM ROCHA

Escrito por 

PANDEMIA

JOAQUIM ROCHA passou grande parte da sua vida como motorista de autocarros de turismo, profissão que o levou a correr todas as estradas da Europa, a conhecer nações e pessoas das mais diversas linguas e  culturas e, cidadão ilteligente e atento que era às diferenças verivicadas entre pessoas e povos, a mundividência adquirida nesse seu vai-e-vem foi um contributo assinalável para a maneira de ser humana e sociável como o conheci.

Chegou a comprar um apartamento na Espanha  para dar descanso ao corpo depois de tanto quilómetro andado. Não eram as estradas que hoje ligam a Europa toda. Não foi vida fácil. E depois de se reformar não foi romper os fundilhos das calças para os bancos de jardins públicos a jogar a bisca lambida. Agarrou-se à enxada e, num pedaço de terreno emprestado, próximo do seu apartamento, em Santo António dos Cavaleiros, cultivava as hortaliças e mais produtos da terra que no lar se consumiam. Uma vida ativa em jovem e em adulto e uma vida ativa no envelhecimento.

1natal

Homem do norte, mais novo do que eu, casado com uma senhora também do norte, vim a conhecê-lo porque nas encruzilhadas da vida uma das suas 4 filhas – a Sandra – mãe da minha neta Mafalda e neto Guilherme, se encontrou na Faculdade com o meu filho Valer, se namoraram e vieram a constituir FAMÍLIA.

Um dia, a caminho da terra natal, ele e a esposa, passaram por Fareja para conhecerem pessoalmente o pai do seu genro, um rapaz muito estimável no seu juízo. Fui avisado disso e cá os recebi, com a hospitalidade merecida.

Conversámos o suficiente para eu me certificar que o meu filho se tinha integrado numa FAMÍLIA de BOA GENTE, gente honrada e muito estimada pelos conhecidos, o que me deixou muito feliz.

natal 5A convite dos meus filhos, fui passar algumas consoadas (de Natal) com eles. E lá, consiliando os interesses de várias famílias unidas numa só família, houve que optar por estar uma vez nesta casa, outra vez naquela.

E, no que respeita ao COMPADRE ROCHA, quer em sua casa, quer em casa de um cunhado seu, eu me senti como se fosse em minha casa. E confirmei tratar-se de uma FAMÍLIA nuclear e alargada muito unida, mantendo vivas as velhas tradições das GENTES RURAIS do norte que URBANAS se tornaram por força de ganharem a vida fora da terra natal. É o velho problema das migrações internas. No antigamente e no agora.

Fiz desses encontros vídeos que alojei no Youtube e é de um deles que respiguei os fotogramas que ilustram este texto. «Natal de 2017 Lisboa e arredores»

3natalO COMPADRE JOAQUIM ROCHA, por força da sua mundividência, era um conversador ao pé de quem não se podia estar triste. Grande contador de histórias de vida, das «estórias» passadas nos meios campesinos e nos meios citadinos,  bem humoradas, era uma espécie de livro aberto que eu tive o privilégio de ler durante esses nossos convívios.

Soube agora mesmo – hoje de manhã - pelo meu filho mais velho – Nuro – que ele faleceu, RECENTEMENTE, com Covid-19. E face a tão inesperada notícia, de voz embargada, que mais podia eu fazer, em sua MEMÓRIA, em memória de um HOMEM BOM, senão sentar-me ao computador deixar aqui, preto no branco, os sinceros e doridos PÊSAMES a toda aquela FAMÍLIA que tão bem me recebeu nos seus LARES?

E não tenho mais palavras… era o avô materno da minha neta MAFALDA e neto GUILHERME aos quais nunca regateou afetos e brincadeiras por mim presenciados.  

https://youtu.be/puo4noNmYzY

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.